Conte sua história › Chiaki Ishii › Minha história
Mas a colônia japonesa gosta muito de judô, né? Aí me chamaram para competir. Cheguei em maio e em julho já tinha campeonato. Ganhei de todos os campeões. Disseram: “esse cara é muito bom!”. Aí me pediram para ser professor de judô. Comecei a dar aula em todo o interior de São Paulo. Eu me formei em pedagogia, na Universidade de Waseda, por isso sempre gostei de ensinar.
Aí desisti da lavoura. Para ficar fazendeiro precisa ter muito capital, terreno, casa, máquina, uma monte de coisa. Primeiro tem que ganhar dinheiro. Ia demorar uns vinte anos para eu comprar fazenda. E a noiva no Japão não podia esperar tanto tempo.
Ela veio quatro anos depois. Eu já morava em São Paulo, era professor numa academia na Rua Oscar Freire. Casamos aqui e fomos morar na Vila Mariana. Aí o senhor Augusto Cordeiro, presidente da Confederação Brasileira de Pugilismo, me perguntou se eu não queria virar brasileiro. Ele me disse: “Para participar de campeonato oficial, tem que se naturalizar. E você tem chance de ganhar”.
Eu me naturalizei em 1969. A colônia japonesa não gostou muito. Disseram que eu tinha aprendido judô no Japão e que aqui eu só podia ser professor, não competir. Mas eu achei que tinha direito. E comecei a conquistar um monte de título: estadual, brasileiro, sul-americano, pan-americano. Fui subindo.
Em 1971, participei do mundial em Ludwigshafen, na Alemanha, e ganhei bronze. A confederação então achou que eu tinha chance de medalha nas Olimpíadas, e me mandou para o Japão treinar. Fiquei três meses. De lá, fui direto para Munique.
Na minha categoria, meio-pesado, tinha um gênio do judô competindo, Fumio Sasahara, tricampeão mundial. Eu tinha tinha apanhado dele no Mundial, mas tinha ganhado de todo o resto. Acreditei que dava para ganhar até prata nas Olimpíadas. Mas, na primeira rodada, um russo pegou ele com um ippon. Aí todo o mundo falou: “Ishii ganhou daquele russo, ele tem chance de ouro”.
Na semifinal peguei um alemão ocidental. Eu tinha lutado com ele no Mundial no ano anterior e em 10 segundos eu tinha jogado ele no chão. Achavam que eu ia ganhar fácil dele. Ele estava com medo, conhecia meu golpe. Só fugia, e eu só atacava. Mas, no final, o alemão ganhou na decisão por bandeira [por decisão dos juízes]. Eu fiquei muito chateado. Aí fui para a repescagem e, na decisão do segundo colocado, perdi para um inglês. Fiquei com o bronze.
Depoimento ao jornalista Xavier Bartaburu
Fotos: Everton Ballardin e arquivo pessoal de Chiaki Ishii
Vídeos e áudios: Estilingue Filmes
As opiniões emitidas nesta página são de responsabilidade do participante e não refletem necessariamente a opinião da Editora Abril
Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil