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  Conte sua históriaTatiana Aoki Cavalcanti › Minha história

Tatiana Aoki Cavalcanti

São Paulo / São Paulo - Brasil
38 anos, Jornalista

A descoberta dos Aoki


Confesso que não sabia muito sobre minha família, nem tinha muito interesse nesse sentido. Embora lembre vagamente de meu ditian e batian contando suas memórias, talvez eu não tivesse muito empenho em saber das origens dos Aoki. Acho que ouvia sem atenção, vontade mesmo. Queria é jogar videogame e andar de bicicleta quando ia a Taquarituba, cidade em que meus avós viviam, no interior de São Paulo. No entanto, meu comportamento não é incomum. Segundo Bosi (1994, p. 83), o velho

nos aborrece com o excesso de experiência que quer aconselhar, providenciar, prever. Se protestamos contra seus conselhos, pode calar-se e talvez querer acertar o passo com os mais jovens. Essa adaptação falha com freqüência, pois o ancião se vê privado de sua função e deve desempenhar uma nova, ágil demais para o seu passo lento.

Esse comportamento impaciente diante dos mais velhos, incluindo o meu comportamento em relação aos meus avós, pode ser um dos motivos para que estes parassem de falar de seu passado, ou melhor, priorizassem o futuro, adequando-se ao pensamento adulto.
A autora continua, mostrando o que posso ter perdido por não ter perguntado a história dos meus antepassados: “A sociedade perde com isso. (...) O velho é alguém que se retrai de seu lugar social e este encolhimento é uma perda e um empobrecimento para todos” (BOSI, 1994, p. 83).
Continuo me indagando o porquê de não ter perguntado ao meu ditian e batian uma única vez sobre o passado deles no Japão. Bosi (1994, p. 84) responde à questão com desenvoltura:

Por quê decaiu a arte de contar histórias? Talvez porque tenha decaído a arte de troca experiências. A experiência que passa de boca em boca e que o mundo da técnica desorienta.

O mais triste é que, nos meses finais antes de morrer, eu sequer fui visitar meu ditian. Pior, quando o fiz, não perguntei nada que pudesse ficar para posteridade, que complementasse meu conhecimento a respeito da vida e da morte. Seria uma espécie de rejeição à morte? Segundo Bosi (1994, p. 88) “a civilização burguesa expulsou de si a morte; não se visitam moribundos, a pessoa que vai morrer é apartada, os defuntos já não são contemplados”. Já com relação à minha batian, ela morreu de ataque cardíaco nos braços de minha mãe, em São Paulo. Eu tinha apenas nove anos.

À parte dessas lamentações, pois nunca é tarde para ir atrás de nossas origens, comecei minha busca incessante de pessoas que me orientassem na compreensão do “ser quem eu sou”.

E a vontade de saber sobre minhas origens se deu por duas vias: quando fui fazer arubaito (trabalho temporário no Japão nas férias da faculdade) em 2005, no qual fui ao Japão pela primeira vez e me interessei muito pelo país e sua cultura. E o fato de o ano de 2008 ser comemorado o centenário da imigração japonesa ao Brasil. No entanto, meus avós, que seriam as maiores fontes de informação, já tinham falecido – meu ditian em 2003 e minha batian, em 1995.
O contato que tenho com minha família Aoki não é muito grande, principalmente por questões geográficas, mas também pelo distanciamento que o cotidiano promove nas pessoas. Dessa forma, resolvi procurar as fontes pelo meio mais fácil: a Internet.
Mandei e-mail para meus primos, a fim de que estes entrassem em contato com seus respectivos avós, pais, tios, etc., e me mandassem informações. Contudo, o retorno foi escasso e poucos se interessaram. Ou seja, neste caso, a utilização das novas tecnologias no sentido de unir as pessoas foi em vão – provavelmente a geração mais jovem quer se voltar ao futuro em detrimento do passado, como fazem hoje os jovens japoneses, globalizados e voltados para a modernidade. Vi que a forma mais eficiente de conseguir materiais era recorrendo a eles – os mais velhos.

O encontro com velhos parentes faz o passado reviver com um frescor que não encontraríamos na evocação solitária. Mesmo porque muitas recordações que incorporamos ao nosso passado não são nossas: simplesmente foram relatadas por nossos parentes e depois lembradas por nós (BOSI, 1994, p. 407).

Resolvi juntar o pouco de dinheiro que tenho e o gastei nas passagens para o interior de São Paulo, a fim de descobrir o mistério de minha famíla (parecido com o filme “Uma vida iluminada” , calculadas as devidas proporções, afinal, a personagem atravessou o mundo em busca da origem de sua família).
A primeira parada foi Avaré, no sudoeste do Estado. Em Avaré colhi os dois principais depoimentos: meu tio-avô Hideyo, 67 anos, caçula de nove irmãos; e Satiko Aoki Watanabe – mais conhecida como Tia Rosa –, 74 anos, irmã de Hideyo e a sexta irmã dos Aoki. Dos nove irmãos, três faleceram. A mais velha, com 89 anos, continua viva, mas com saúde frágil. Por conta disso, não consegui entrevista-la: sua filha, Maritian, me avisou que emoções fortes poderiam afetar sua saúde já debilitada.
De qualquer forma, chegando a Avaré, meu Tio Hideyo me deu uma cópia do passaporte da família Aoki – onde tudo começou, em 1933. Por coincidência, 1933 é o primeiro ano de estudo da minha pesquisa de iniciação científica, ou seja, tenho certo conhecimento histórico do período.
Mesmo sendo o mais novo dos irmãos, Tio Hideyo é um dos mais interessados em reconstituir o passado da família, tanto que encomendou uma árvore genealógica, com todos os seus membros depois da vinda de meus bisavós.
No dia seguinte, também fui a Taquarituba, na casa-origem da família Aoki. Por conta da bagunça de meus tios, não achei quase nada de fotos e materiais. Das que achei, as digitalizei prontamente.
Após a visita frustrada a Taquarituba, dei a cartada final: em Avaré, entrevisto minha tia-avó Rosa. No início, tia Rosa disse que não tinha lembranças nem material. No etanto, como preconiza Bosi (1994, p. 416),

“um dia inteiro pode dividir-se entre antes e depois de uma visita inesperada”

E foi lá mesmo, após certa insistência, que encontrei muitas fotos raríssimas e bem organizadas. E o melhor, tia Rosa as emprestou sem cerimônia..


Enviada em: 12/02/2008 | Última modificação: 12/02/2008
 
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Comentários

  1. Juliana Sayuri @ 19 Dez, 2007 : 12:46
    Tati, Também tô no site: http://www.100anosjapaobrasil.com.br/perfil/80/ Acho que o trabalho da Maysa foi legal pra gente, né? Um bjo!

  2. Mariana @ 1 Abr, 2009 : 05:04
    Olá!! sou Aoki também. Interessante a história.

  3. mario katsuhiko kimura @ 1 Abr, 2009 : 07:25
    Parabens por regatar a historia de sua família, admiração maior por voce ser jovem, sanssei, ainda ai-no-ko (mestiço). Sei que está fazendo valer a sua profissão escolhida, no entanto, registro que não deveremos desmerecer seu enorme esforço, dedicação, gastos com viagens, tempo despendido, tudo para buscar o seu passado de origem oriental. Parabéns. Suas historias ficaram muito boas, gostosas de ler e espero que continue a sua pesquisa para colocar na sua página, afim de que possamos deliciar com as leituras/informações. Saúde, paz e sucesso na sua profissão

  4. Silvio Sano @ 6 Abr, 2009 : 01:56
    Parabéns, Tatiana, por sua profunda pesquisa, mas principalmente por seu “reacendido” interesse pelas raízes. Uma das ótimas contribuições deste centenário, é que, ao menos, levou muita gente a esse tipo de reflexão. Não apenas os jovens. Eu mesmo fui descobrir muitas coisas sobre minha família (leia também no perfil de meu irmão, Jorge Tsuneharu Sano) só a partir desse momento histórico. Ótimas e decepcionantes descobertas, sim, mas, tudo... no fim, transformando-se em grandes ensinamentos. E neste país multirracial, onde podemos fazer um intercâmbio cultural sem a necessidade de cruzarmos fronteiras, a melhor contribuição que podemos dar à nação é tornando isso uma realidade. Você mesma que já é um produto da miscigenação que este país propicia, deve ter sentido essa vantagem. Sua herança não foi apenas genética (se bem que, também, uma vantagem), mas principalmente cultural. E intercâmbio justo é aquele em que há realmente a troca, de lá pra cá e daqui pra lá. Por isso é preciso que se conheça as próprias. Né, não? Pois é, e vendo este seu sincero interesse, informo-te (talvez já saiba) que no Memorial do Imigrante da Secretaria da Cultura do Estado (www.memorialdoimigrante.sp.gov.br), você pode obter uma Certidão de Desembarque de seus primeiros ancestrais... caso tenham aportados em Santos. E é reconhecido como documentos pelos consulados estrangeiros no Brasil. Mas vale a pena visitá-lo já que se trata de um prédio muito bonito, tombado pelo patrimônio, e que foi construído para ser a Hospedaria daqueles imigrantes. Sem contar o ótimo acervo... de todas as nacionalidades imigrantes (mais de 60). Quem sabe os seus bisavós, de ambos os lados, não tenham passado por lá? Um grande abraço.

  5. Tatiana Aoki @ 6 Abr, 2009 : 10:52
    Obrigada pelos comentários. Estou no Japão atualmente, mas volto em maio. Vou procurar esse acervo no Memorial quando chegar - se bem que, na realidade, eu queria mesmo é visitar meus ancestrais aqui no Japão antes de voltar ao Brasil.

  6. Silvio Sano @ 7 Abr, 2009 : 12:16
    É isso aí, Tatiana. Se não encontrar os parentes, ainda assim vc pode obter informações sobre eles no shiyakusho onde nasceram. Dá para formar até a sua "árvore". Leve o seu koseki tohon. Se algum amigo nativo puder acompanhá-la, melhor. Sucesso!!

  7. Takeshi Misumi @ 14 Abr, 2009 : 12:13
    Tatiana, parabéns! Parabéns por seu questionamento: “De onde eu vim?” Não somente questionou como “foi atrás” -: “...comecei minha busca incessante de pessoas que me orientassem na compreensão do “ser quem eu sou”. Parabéns não somente por ter encontrado as pessoas certas, como também pelas citações de pensamentos inteligentes. A propósito, gostaria que você informasse os dados completos da autora Bosi mencionada em diversos trechos de seus relatos, indicando nome completo, nome do livro, editora etc. Parabéns pela iniciativa de “descobrir o mistério de sua família”, mesmo tendo que sacrificar suas economias. Parabéns pela concatenação de idéias nos seus relatos. Sensacional seu raciocínio quanto “...a utilização das novas tecnologias no sentido de unir as pessoas...” concluindo que “...provavelmente a geração mais jovem quer se voltar ao futuro em detrimento do passado”. Parabéns a você, que mesma com a tenra idade – apenas 23 anos – consegue raciocinar com tanta maturidade. Talvez a profissão que você escolheu facilite nessa missão – descobrir suas origens. Mas, os seus relatos são de alta qualidade e de uma profundidade incomum. Como você descreveu ... “ a história de uma família não acaba, nem acabou.” Porisso, Tatiane, prossiga nessa busca incessante. Você irá descobrir muitas coisas interessantes. Esse processo de busca tornará você cada vez mais sábia. Continue escrevendo seus relatos para o deleite dos leitores deste site.

  8. Tatiana Aoki @ 14 Abr, 2009 : 14:00
    Olá, Nossa, muito obrigada pelos comentários! Confesso que deu trabalho para coletar os dados - que, ainda assim, ficaram várias lacunas. Tenho o trabalho completo comigo, com mais arquivos, bibliografia, entre outros dados. Se interessar, é só falar que te mando por email. Abraços,

  9. Mirian @ 5 Out, 2010 : 06:26
    alguem conhece um amigo meu claudio henrique aoki, morava em curitiba foi para o japao e voltou, hoje sei que esta casado com juliana, mas quero rever o meu melhor amigo e conhecer sua esposa.para contato sobre informaçoes: avonmirian@ig.com.br

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