Conte sua história › Kelly Tiemi Nagaoka › Minha história
Do lado paterno, sinceramente, tive pouco contato com a batian (avó) Oshie, de Kumamoto, e ditchan (avô) Shikao de Okayama. Morei com eles quando criança até os seis anos. Minha batian, apesar de ter chegado jovem ao Brasil, na casa dos 20 anos, até os 96 anos não aprendeu português.
Acredito que tive poucas oportunidades de conversar com minha avó, pois geralmente nos encontrávamos em festas ou em almoços de domingo. Talvez por um misto de timidez e saber pouco japonês não tinha condições de chegar perto dela para conversar. Algumas vezes, ela tentava falar comigo, alguém traduzia e era muito breve.
Até que um dia fui à casa dela com minha mãe e ela estava sozinha assistindo a um programa japonês na TV. Sentei ao lado dela e minutos depois ela desligou a TV. Pensei: "Este é o momento para tentar conversar com ela". Fiz perguntas com meu japonês básico, como em que ano chegou ao Brasil, em qual navio, em qual cidade nasceu, entre outras coisas. Aí ela resolveu sair do roteiro e falar mais, e já não entendi mais nada. Apesar de ter sido um momento muito breve, posso dizer que foi um dos dias mais marcantes de minha vida. Parece que o tempo havia parado para nós duas. Lembro como se fosse ontem. Minha avó, pequenininha, sempre arrumada, aqueles cabelos brancos curtos, elegante, com aquele sorriso e semblante doces, me olhando com ternura e brilho no olhar. Sei que ficou muito feliz e surpresa por minha atitude simples.
Ela faleceu pouco depois daquela conversa rápida. Somente no velório dela descobri algumas curiosidades dela. Ao lado do caixão, chorei ao ver aquela figura que conheci pouco ao longo dos meus 20 e poucos anos de vida.
As opiniões emitidas nesta página são de responsabilidade do participante e não refletem necessariamente a opinião da Editora Abril
Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil