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Faz 23 anos que não paro. Trabalho quase sem final de semana, emendando um projeto no outro. Depois do CIT (Coordenação Industrial Têxtil), atuei numa confecção infantil, na B.O.A.T House e fui para o Japão, conhecer as semanas de moda de lá. Voltei ao Brasil, passei por várias confecções, montei uma empresa com um amigo e outra com os meus irmãos, até que, em 1996, me inscrevi no Phytoervas Fashion (berço da São Paulo Fashion Week). Desfilei e fui considerado a revelação do evento. Aí, surgiu o convite da Zoomp para dirigir o departamento de criação da grife, onde fiquei até 2002. Abri a minha própria marca e, nesse relacionamento mais intenso com o mercado, comecei a questionar o sistema. Em 2004, decidi romper com ele.
Não acreditava – e ainda não acredito – nessa engrenagem baseada em pensamentos pasteurizados, reducionistas, que induzem à formatação. Me deparei com os mesmos questionamentos da época do colegial. Para conseguir espaço no mercado, precisava abdicar dos meus preceitos e idéias, a fim de atender a uma demanda. Além desta cultura vazia, enfrentava a falta de viabilidade comercial e industrial. Manter a minha marca era uma tarefa quixotesca.
Assim, fiz o desfile de papel, a minha última apresentação na São Paulo Fashion Week, em 2004. Com uma equipe de artistas, criei vestidos de fábula, inspirados no século 19, em papel vegetal, que consumiram 700 horas de trabalho. Para potencializar o lúdico, usamos cabeças de bonecos Playmobil nas modelos, que criaram uma suspensão do tempo: passado, presente e futuro se uniam, como num sonho.
Ao final do desfile, as modelos se enfileiraram na passarela para uma última contemplação e, subitamente, rasgaram todos os trajes. O choque criou um questionamento na cabeça das pessoas. Queria mostrar que o mais importante é o conteúdo, a idéia, não a forma. Esta forma deveria ser tão valiosa e os pensamentos por detrás dela, tão densos, que, mesmo desaparecendo, aquilo permaneceria na retina imagética das pessoas, deixando cicatrizes (Veja mais detalhes sobre o desfile em vídeo).
Parece ter funcionado: no ano passado, o desfile foi considerado o melhor da década pela própria organização da São Paulo Fashion Week. Também em 2006, o Museu da Moda de Paris mostrou a apresentação como uma das mais representativas do século, colocando-a junto a criações de ídolos meus, como John Galliano e Yohji Yamamoto.
Rompi com o mercado, mas não com a moda. Hoje, dou aula no Instituto Brasil de Arte e Moda (composto pela Faap, Associação Brasileira das Indústrias Têxteis, Senai e Masp), presto consultoria na área de confecção e organizo workshops de criação e direção de criação. Também preparo exposições dentro e fora do País.
Depoimento ao jornalista Márcio Oyama
Fotos: Everton Ballardin e arquivo pessoal de Jum Nakao
Vídeos e áudios: Estilingue Filmes
Site de Jum Nakao: http://www.jumnakao.com.br>
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A influência da cultura japonesa em seus trabalhos
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil