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Os estilistas geralmente contam: "Eu tinha boneca, ficava fazendo roupas para elas"; "sempre gostei de desenhar vestidos"; "minha mãe mexia com panos e costurava". Nunca vivi nada disso. Quando optei pelo colegial técnico, na Escola Técnica Industrial Lauro Gomes, em São Bernardo do Campo, achava que a eletrônica e a informática que estavam surgindo seriam uma grande interface para eu criar e recriar projetos. Ainda não tinha noção de como seria a minha obra, do que eu produziria com aquilo, mas eu queria entender, queria desmontar as máquinas, criar equipamentos, ambientes virtuais. (Veja o vídeo em que Jum conta como descobriu a moda em sua vida)
O colegial, entretanto, foi uma frustração como ensino. Era muito formatador, não trabalhava as diferenças, mas a igualdade. Os colegas de classe tiravam sarro da minha cara porque eu vivia atrasando as aulas, perguntando aos professores a origem das fórmulas. Até me chamavam de "Qual é a origem". As pessoas estavam lá para decorar, não para questionar, refletir.
Finalizei o curso e comecei a buscar algo mais próximo das pessoas, alguma coisa que trabalhasse a relação delas com o mundo de forma concreta. Aí, veio a roupa. Afinal, ela é a primeira interface que existe entre você nu e o exterior, a sua segunda pele, aquilo que te identifica, te define. Vi que poderia usar a moda como um espaço de experimentação, interferir nessa relação do indivíduo com o entorno.
Tinha 17 anos na época. Como ainda não havia faculdade de moda no Brasil, fiz cursos de costura e modelagem. Mas o ensino era tão burro quanto o do colegial técnico: davam um monte de bases e diziam "esse é o traçado de uma saia", "esse, de uma calça". Eu queria saber por que havia tal inclinação, como funcionava aquilo.
Foi então que descobri o CIT (Coordenação Industrial Têxtil), que reunia empresas associadas do setor e mininstrava cursos de moda aos seus funcionários. Liguei para lá e consegui permissão para assistir a algumas aulas. Gostei tanto que passei a ir todos os dias, mesmo estagiando em uma empresa de processamento de dados, para conseguir o diploma do colegial técnico. Com a minha freqüência diária – que era proibida, já que não tinha vínculo algum com os associados –, precisei escrever uma carta ao presidente da Rhodia pedindo um estágio, apenas para continuar nas aulas. Acabei virando bolsista da empresa, sem precisar fazer nada, e finalizei os cursos. Como lá estava a nata dos profissionais do mercado, fiz um network importante de contatos e comecei a trabalhar na área. Até hoje, não fui buscar o meu diploma de técnico de eletrônica.
Depoimento ao jornalista Márcio Oyama
Fotos: Everton Ballardin e arquivo pessoal de Jum Nakao
Vídeos e áudios: Estilingue Filmes
Site de Jum Nakao: http://www.jumnakao.com.br>
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A influência da cultura japonesa em seus trabalhos
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil