Conte sua história › Jum Nakao › Minha história
Sempre fui introspectivo. Curioso, fuçador, eu costumava desmontar aparelhos eletrônicos e brinquedos para remontá-los ou criar novos objetos. Era meio “Professor Pardal”. Segundo contavam meus avós, quando eu era criança, eu queimava vários transformadores de energia nessas descobertas. Até hoje, sou assim: gosto de estar sozinho, desmontando, montando, desenhando, criando.
Ainda tenho guardados os brinquedos que construí e os que ganhei. Trabalhando na Toda, meu pai ia com freqüência ao Japão e sempre me trazia presentes tecnológicos. Mas eu não brincava com eles. Preferia guardá-los. Achava legal aquilo ser mais cultuado, não via os brinquedos como brinquedos, mas como relíquias. Gostava de preservar as relíquias que ganhava e também de construir as minhas próprias. (Assista ao vídeo em que Jum conta como fez o seu primeiro brinquedo).
Meus amigos formavam uma turma misturada, bem mestiça, bem Brasil. Havia descendentes de italianos, nordestinos, gente simples. E poucos nikkeis. Meus pais não se importavam, só exigiam que eu fosse bem nos estudos. A cultura japonesa manda que o irmão mais velho dê o exemplo e, por isso, sempre fui bom aluno, o ichiban (número um), com as melhores notas. Desde pequeno, pego pesado comigo mesmo, me cobro muito.
Fiz o jardim de infância da prefeitura e, antes de começar a escola regular, freqüentei o nihongako (escolinha de japonês). Nesta época, gostava de participar dos undokais (gincanas), que também aconteciam nas festas de confraternização promovidas pela empresa do meu pai. Ele é budista e, às vezes, ainda me levava para participar de alguns rituais. Uma vez, fui a um festival em que tive de correr descalço sobre um tapete de cinzas e labaredas. Achei aquilo meio selvagem, não gostei nem um pouco.
Dos 6 aos 12 anos, fiz judô com o Ryiuzo Ogawa (um dos precursores do esporte no País). De tão rígido e severo, o sensei parecia um general, mesmo com crianças. Também joguei tênis de mesa por vários anos, treinei em clubes, fui federado. Cheguei a disputar campeonatos com o Hugo Hoyama e o Claudio Kano, mas precisei parar quando entrei no colegial técnico.
Desta época, lembro que a minha mãe, sempre muito dedicada, se levantava comigo, de madrugada, para preparar a minha marmita. Como eu passava o dia inteiro na escola, tinha de comer parte do almoço já de manhã: carne, arroz, sopa, macarrão, e tudo com café com leite! As refeições em casa, aliás, sempre foram muito híbridas. Ainda mais nas festas, que tinham um cardápio bem democrático: o sushi acompanhava churrasco e feijoada.
Depoimento ao jornalista Márcio Oyama
Fotos: Everton Ballardin e arquivo pessoal de Jum Nakao
Vídeos e áudios: Estilingue Filmes
Site de Jum Nakao: http://www.jumnakao.com.br>
Festividades híbridas em família: churrasco com sushi
A influência da cultura japonesa em seus trabalhos
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil