Conte sua história › Cesídio Ambrogi Filho › Minha história
O mistério da ética e da estética dos japoneses me acompanhou. Estranhava que não produzissem filósofos que impressionassem o Ocidente. Há poucos anos, pedi para uma advogada taubateana, dra. Alice Takahashi Nariçawa, uma orientação sobre o começar a ler sobre o Japão. Ganhei dela (outro mistério nikkei, a arte de presentear) o livro "Japão – Passado e Presente", do jornalista santista José Yamashiro, uma obra em tudo igual à de um rigoroso historiador acadêmico. O entusiasmo foi tão grande que eu e a dra. Alice tentamos conhecê-lo pessoalmente, o que não conseguimos. Mas minha sorte continuou. Dra. Alice e minha irmã, sua velha amiga e também advogada, aceitaram meu convite para lermos semanalmente o trabalho do sr. Yamashiro. Levamos um ano e o lucro foi enorme. A partir dali, comecei e desvendar os "mistérios" dos nikkeis e a criar algumas hipóteses sobre a questão dos filósofos japoneses.
Para abordar a mentalidade japonesa é necessário compreender como a mentalidade brasileira foi formada. Não cabe discutir isso aqui, salvo esquematicamente. O Brasil tem 500 anos. Como Angola e Moçambique, é uma ex-colônia portuguesa. Portugal iniciou sua decadência com a ascensão do colonialismo dos seus vizinhos. Retraindo-se, alinhou-se à Contra Reforma, não acompanhou a industrialização européia, manteve-se rural-católico e submeteu-se à proteção inglesa. Os ingleses evitaram que Portugal caísse sob Napoleão e se aliasse aos franceses, transferindo a Corte portuguesa para o Brasil sob tutela da Marinha britânica. Mais tarde, forçaram a libertação dos escravos. Bloquearam militarmente o tráfico clandestino que continuava após acordo assinado com Portugal, acabando com o truque “para inglês ver”. Sem saída, o Brasil foi o último país das três Américas a libertá-los. A partir do bloqueio inglês, a mentalidade "casa grande e senzala" sofreu reveses e adaptações para manter-se na linha católico-rural-cartorial portuguesa, onde é preferível administrar uma pequena nação periférica do que uma potência. Até hoje, apesar do tamanho, pensamos como os portugueses.
Por outro lado, os japoneses surgiram num arquipélago, formaram uma nação, um império e uma potência mundial. Seus governos desenvolveram uma mentalidade pública pra esse fim e inimaginável para governos luso-brasileiros. O paralelo japonês no Ocidente é a Inglaterra. Também ilhéus, os ingleses formaram uma nação, um império e são uma potência mundial. Conhecemos indiretamente a mentalidade inglesa pelos seus efeitos em suas ex-colônias, como EUA, Austrália, Nova Zelândia ou Índia, uma produtora de matemáticos cibernéticos. A mentalidade japonesa que mal percebemos daqui está refletida nos Tigres Asiáticos.
O mistério dos nikkeis começou a se desfazer para mim através da obra de José Yamashiro. Hoje entendo que somos crianças perto dos japoneses. Daí as diferenças. Por trás de cada um deles, há uma importante parte da História da Humanidade, criada por aqueles habitantes de um pequeno arquipélago, ao lado de vulcões à beira-mar plantados, diria Camões, no Mar do Japão.
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil