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Cesídio Ambrogi Filho

Taubaté (SP)
83 anos, médico e jornalista

Passado e presente


O mistério da ética e da estética dos japoneses me acompanhou. Estranhava que não produzissem filósofos que impressionassem o Ocidente. Há poucos anos, pedi para uma advogada taubateana, dra. Alice Takahashi Nariçawa, uma orientação sobre o começar a ler sobre o Japão. Ganhei dela (outro mistério nikkei, a arte de presentear) o livro "Japão – Passado e Presente", do jornalista santista José Yamashiro, uma obra em tudo igual à de um rigoroso historiador acadêmico. O entusiasmo foi tão grande que eu e a dra. Alice tentamos conhecê-lo pessoalmente, o que não conseguimos. Mas minha sorte continuou. Dra. Alice e minha irmã, sua velha amiga e também advogada, aceitaram meu convite para lermos semanalmente o trabalho do sr. Yamashiro. Levamos um ano e o lucro foi enorme. A partir dali, comecei e desvendar os "mistérios" dos nikkeis e a criar algumas hipóteses sobre a questão dos filósofos japoneses.

Para abordar a mentalidade japonesa é necessário compreender como a mentalidade brasileira foi formada. Não cabe discutir isso aqui, salvo esquematicamente. O Brasil tem 500 anos. Como Angola e Moçambique, é uma ex-colônia portuguesa. Portugal iniciou sua decadência com a ascensão do colonialismo dos seus vizinhos. Retraindo-se, alinhou-se à Contra Reforma, não acompanhou a industrialização européia, manteve-se rural-católico e submeteu-se à proteção inglesa. Os ingleses evitaram que Portugal caísse sob Napoleão e se aliasse aos franceses, transferindo a Corte portuguesa para o Brasil sob tutela da Marinha britânica. Mais tarde, forçaram a libertação dos escravos. Bloquearam militarmente o tráfico clandestino que continuava após acordo assinado com Portugal, acabando com o truque “para inglês ver”. Sem saída, o Brasil foi o último país das três Américas a libertá-los. A partir do bloqueio inglês, a mentalidade "casa grande e senzala" sofreu reveses e adaptações para manter-se na linha católico-rural-cartorial portuguesa, onde é preferível administrar uma pequena nação periférica do que uma potência. Até hoje, apesar do tamanho, pensamos como os portugueses.

Por outro lado, os japoneses surgiram num arquipélago, formaram uma nação, um império e uma potência mundial. Seus governos desenvolveram uma mentalidade pública pra esse fim e inimaginável para governos luso-brasileiros. O paralelo japonês no Ocidente é a Inglaterra. Também ilhéus, os ingleses formaram uma nação, um império e são uma potência mundial. Conhecemos indiretamente a mentalidade inglesa pelos seus efeitos em suas ex-colônias, como EUA, Austrália, Nova Zelândia ou Índia, uma produtora de matemáticos cibernéticos. A mentalidade japonesa que mal percebemos daqui está refletida nos Tigres Asiáticos.

O mistério dos nikkeis começou a se desfazer para mim através da obra de José Yamashiro. Hoje entendo que somos crianças perto dos japoneses. Daí as diferenças. Por trás de cada um deles, há uma importante parte da História da Humanidade, criada por aqueles habitantes de um pequeno arquipélago, ao lado de vulcões à beira-mar plantados, diria Camões, no Mar do Japão.


Enviada em: 11/10/2007 | Última modificação: 13/10/2007
 
O mistério dos nikkeis »

 

Comentários

  1. Luci Suzuki @ 4 Nov, 2007 : 17:36
    Excelente abordagem, sr. Ambrogi. Me refiro à ferida na qual aponta os dedos: a herança "católico-rural-cartorial-portuguesa", da qual nós brasileiros estamos visceralmente "condenados" a aceitá-la como uma sina, esperando apenas por hipotéticos dias melhores abençoados por alguma força divina. Absolvemos tudo,dissimulamos tudo e preferimos a omissão a solução. A história brasileira passou da barbárie(escravidão mal-resolvida) à decadência sem a etapa intermediária da civilização e não posso que lamentar essa nossa persistente apatia.

  2. Renzo @ 6 Nov, 2007 : 18:38
    A sua frase "esquerda festiva" ilustrou bem, por comparação, o contraste do "japonês" comportado e comportamento alguns movimentos de "esquerda" sem causa e brincando com coisas sérias. Gostei muito do seu comentário pois descreve fielmente o comportamento de todos os japoneses e nisseis que eu conheço, desde o meu pai até alguns amigos nisseis que tive na escola e faculdade. O sr. fez um retrato e traçou um perfil representando neste seu amigo o comportamento que regia quase todos os japoneses e nisseis daquela geração e que de alguma forma não tem seguidores nos dias de hoje.

  3. kleber.ferreira@hotmail.it @ 29 Nov, 2007 : 19:48
    Lendo sua interessante abordagem sobre este artigo, fui tomado por uma incontrolável curiosidade que foge um pouco do assunto e quero aproveitar a ocasião para lhe dizer que sou de Natividade da Serra a terra natal de seu querido pai. Vivo hoje em Turim, Italia e pesquisando sobre a vida do Sr. Cesídio Ambrogi, escrevi uma pequena biografia sobre ele na wikipédia (enciclopédia virtual). Espero com isso, poder manter ainda viva a memòria de um grande e inesquecível homem. Saudações, Kleber Ferreira

  4. wanderley.guenka@funasa.gov.br @ 4 Fev, 2008 : 11:35
    Prezado Cesídio Muito interessante o seu relato. Sou da família Guenka de Campo Grande da terceira geração - Sansei e tenho a pretensão de escrever a saga do meu avô vindo de Okinawa. Muito provavelmente o Nilo Guenka é de uma das familias GUENKA de Campo Grande. Toda vez que passo na via Dutra próximo de Taubaté procuro enxergar a Pedra do Baú que um dia tive a alegria de escalar e lá passar a noite. Parabéns Wanderley Guenka

  5. marcelo.guenka@terra.com.br @ 29 Dez, 2008 : 10:25
    Prezado Cesídio, Sou seu vizinho de Taubaté pois moro em Caçapava. Fiquei intrigado com a sua história. Meu pai chama-se Nilo Guenka e é de Campo Grande - MS. Você não teria errado o nome desse seu colega médico? O meu pai tem 76 anos e goza de perfeita saúde. Um abraço.

  6. placidina lemes siqueira @ 22 Ago, 2009 : 22:08
    Todos os nisseis e japoneses que conheço são exemplos de disciplina em todos os seus atos. Disciplina carregada de todas as virtudes: temperança, prudência, dedicação, e, não sei se pela situação de imigrantes, são portadores de uma humilde segurança talvez conquistada nas travessias da vida... placidina.siqueira@gmail.com

  7. judit letsche @ 14 Nov, 2009 : 11:40
    Oi Cesídio, há quanto tempo, meu Deus! Fomos colegas da turma de 1971, e claudia eu conhecia por causa da irmã dela aqui no Rio e aulas de ingles que tomamos juntas. A gente se encontrou em algum canto na vida, não me lembro mais aonde - será Araras? Acho que foi. Bem este colega que voce cita não me lembro de ter sido da nossa turma - como estão perguntando por ai, será que o nome é este mesmo? Abraços saudosos, Judit

  8. cesidiolima@hotmail.com @ 14 Dez, 2009 : 07:19
    bom dia chará moro em manaus estava abrindo meu hotmail quando vi seu nome fiquei feliz. nunca ouvir falar do meu nome em toda minha vida tenho 43 anos sou paraense; gostei da sua historia è bom preservar uma grande amizade mesmo a distancia um abraço de seu chará.

  9. Paulo fernando @ 1 Abr, 2010 : 21:08
    Este grande homem, Cesidio Amgi, partiu para a Casa do Pai hoje. 30.03.2010

  10. Léa Cristina Ambrogi Ribas Branco @ 2 Abr, 2010 : 15:56
    Chamava este grande Homem e homem grande de Tio.De verdade era primo de minha mãe. Nosso contato sempre foi de grande alegria e bagunça. Altamente inteligente, polêmico (como citou seu filho David em sua despedida), deixa uma grande saudade dos seus olhares, expressões faciais que eram só dele, seus longos bate-papos e lindas histórias. Querido Tio/ primo, você deixa um enorme vazio em nossa família. Te amamos. Léinha 02/04/2010

  11. Renato Yassuda @ 11 Abr, 2010 : 09:54
    Meus sinceros pesares pela passagem do sr.Cesídio. "O que importa não é cruzar a linha de chegada, mas sim como se percorreu o CAMINHO". Tenho certeza, apesar de não o conhecer, que o sr.Cesídio percorreu o seu caminho da melhor maneira.

  12. Mario Katsuhiko Kimura @ 12 Abr, 2010 : 16:11
    Obrigado Dr. Cesídio Ambrogi Filho pelos gentis registros em prol da colonia japonesa. Nós descendentes da terra do sol nascente ficaremos eternamente gratos. Decerto estará num lugar muito especial, reservado a espíritos especiais.

  13. josé de souza @ 1 Jun, 2010 : 08:34
    sou jornalista, prof. e gostaria muito de contribuir com a comunidade japonesa de taubaté> Meu trabalho de graduacão de comunicaçoes foi sobre a colonia japonesa de são josé dos campos. Porque não fazer o mesmo com a colonia de taubaté ? Fui ao japao duas vezes e gostaria muito de entrar em contacto com a colonia de taubaté. Meu e-mail Jsouza@univap.br e o meu endereço Rua Ismael Pereira de faria,36-taubaté-Pq 3marias-cep-12081-650- obrigado.

  14. Ariana @ 8 Set, 2010 : 15:40
    Olá! meu nome é Ariana e tenho 14 anos, sempre fui uma admiradora do povo nipônico em si, e simplismente fiquei muito encantada com a sua história.Também vivo em Taubaté e sinceramente ainda não tive nenhum contato(direto ou indireto) com o povo japonês daqui, bom , só espero um dia poder saber um pouco mais sobre eles.

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