Conte sua história › Sussumu Tanaka › Minha história
Minha família veio para o Brasil no navio Montevideo Maru. Desembarcamos em Santos no dia 20 de outubro de 1926. Eu, meu pai e meus irmãos tivemos que aprender na prática a plantar e cuidar do café numa fazenda na região de Mogiana, no oeste de São Paulo. Um dia, meu irmão mais velho viu um artigo no jornal dizendo que a família Doi, que é a família da minha mãe, também estava imigrando para o Brasil. Fomos encontrar eles no Paraná e acabamos em Cambará, trabalhar numa fazenda para plantar 10.000 pés de café e cuidar deles até a colheita, que só acontecia após o 4º ano. Trabalhamos durante esse tempo sem salário, e para sobreviver plantávamos feijão e milho. Quando começamos a colher o café, veio algum dinheiro, mas depois descobrimos que o dono da fazenda não tinha como nos pagar! Acabamos recebendo quatro carroças para burros como parte do pagamento.
Com o dinheiro economizado, meu pai comprou 10 alqueires de terra em Santa Mariana, no Paraná. Com as carroças e os burros, viramos também carroceiros, levando milho, feijão e cereais para vender na cidade. Muitas árvores estavam sendo derrubadas na região, e como meu avô materno era um grande marceneiro no Japão, eles resolveram montar uma serraria onde aproveitavam as árvores derrubadas. Construímos uma bonita casa de madeira, que existe até hoje, e na frente da casa abrimos um armazém de secos e molhados.
Com o dinheiro da serraria, do feijão e do armazém, conseguimos comprar até um caminhão, um luxo na época, mas logo percebemos que não foi um bom negócio, pois as estradas eram muito ruins, havia muitos tocos de madeira, a gente tinha que parar toda hora para tirar as madeiras do caminho, perdíamos muito tempo (risos). Começamos a comprar feijão dos produtores locais e mandar para São Paulo via ferrovias e caminhões.
Meu pai teve um AVC muito cedo, e como manda a tradição japonesa, meu irmão mais velho Yoshikazu assumiu a direção dos negócios da família. Meu irmão mais novo Iwao cuidava da serraria. Depois, resolvemos abrir uma empresa cerealista em São Paulo, batizada de Cerealista Irmãos Tanaka, e Yoshikazu se mudou para cá. Ele mandava o valor do feijão na bolsa, eu comprava no Paraná e mandava para São Paulo. Lá na bolsa de valores, ele ficou conhecido como o “Rei do Feijão”.
Depoimento ao jornalista Leonardo Nishihata
Fotos: Leonardo Nishihata e arquivo pessoal de Sussumu Tanaka
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil