Conte sua história › Caren Utino › Minha história
O que percebi nessas viagens pela Ásia é a ocidentalização da cultura asiática, uma certa imposição de um padrão de beleza que não condiz com o padrão da população. Em Hong-Kong, Japão e Tailândia, recebi algumas críticas de clientes, fotógrafos e produtoras por ser “muito asiática” e isso me levou a questionar meu trabalho na Ásia. Nunca ouvi tal comentário no meu país, o Brasil. A maioria das grandes campanhas veiculadas na Ásia são estampadas com homens e mulheres ocidentais ou mestiços de ocidentais com orientais. Em Bangkok vi muitas meninas caucasianas serem as “mestiças” e muitas mestiças serem as “orientais” em anúncios de xampus, cosméticos, refrigerantes, roupas, etc. Muitas vezes não há espaço para a verdadeira beleza oriental. Nas agências eu sou umas das únicas orientais puras e isso também é motivo de surpresa quando sou apresentada aos clientes (castings), tanto que me pedem para dizer que sou mestiça de brasileiros com japoneses.
Sou descendente de japoneses, avós maternos e paternos japoneses, então não poderia dizer que sou mestiça. Apesar de ter muitos trabalhos, infelizmente sinto uma certa discriminação na Ásia por ser muito asiática! Uma grande ironia, já que jamais pensei ouvir isso num país em que todos são asiáticos.
Penso também na população em geral desses países asiáticos, maioria esmagadora de orientais puros e que são submetidos à forte influência da mídia, pois todo esse padrão imposto os leva a buscar algo que não é deles. Tanto que as cirurgias para ocidentalização dos olhos são campeãs no Japão, na Coréia e na China, fora a venda de lentes de contato coloridas, produtos para enrolar ou clarear cabelos, cosméticos “whitening” para clarear a pele, tudo isso sem mencionar as roupas e acessórios.
Mesmo no Brasil, fiz campanhas publicitárias internacionais e muitos comerciais de TV e anúncios para a América Latina e a Europa. A beleza oriental é muito valorizada no Ocidente, sendo que o oposto acontece na Ásia.
Tudo isso me faz repensar no Brasil e nas inúmeras entrevistas que fiz sobre ser uma modelo oriental num país ocidental. Sempre me perguntam se o mercado publicitário está abrindo as portas para os orientais no Brasil e eu digo “sim, os orientais estão sendo valorizados mais do que nunca!”. Mas é uma pena que outras portas se fechem para nós, onde teoricamente, deveriam ser mais valorizadas.
Com toda certeza, meu Sol brilha mais forte no Brasil.
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil