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Nasci no dia do melhor número possível! Segundo o Feng-Shui é o número 8. Minha data de nascimento é 8 de agosto de 1980. Nasci no Hospital Beneficência Portuguesa no bairro japonês da Liberdade. Desde pequena, sempre vivi a cultura japonesa através dos meus avós. Eles falavam em japonês e tinham costumes tipicamente japoneses. Lembro-me da minha avó materna cozinhando o que para mim era um “teishoku” completo. Lembro-me também do meu avô lendo jornais em japonês e comprando mangás para nós. Eu acho que falava em japonês com eles quando era criança, mas não me lembro mais. Eu e meus irmãos fomos praticamente criados pela minha avó paterna quando crianças, enquanto meus pais trabalhavam duro para sustentar os 3 filhos, todos nascidos em escadinha.
Além disso, sempre freqüentei clubes para nikkeys, como o Nippon e a UCEG. Aos 12 anos, eu comecei a fazer Nihongakkou com alguns amigos em Guarulhos (SP) e a nossa sensei era bastante rígida, mas muito querida. Ensinou músicas japonesas e nos inscrevia em concursos de karaokê. Ela ensinou a dançar o odori para fazermos apresentações e concursos de leitura em japonês também. Foram apenas 2 anos e meio, mas aprendi muito sobre as tradições japonesas e até aulas de etiqueta ela nos ensinou. Uma coisa que eu nunca me esqueço são as histórias sobre a guerra e o sofrimento que a sensei e a família dela passaram. Ela nos ensinava a dar valor para o que tínhamos, como a comida, as roupas, os estudos, a liberdade. Na época eu era novinha, mas já entendia que essa era uma grande lição de vida.
Na adolescência, já com 15 anos, eu freqüentava as baladas para a comunidade nikkey como o Ipê e o Sírio. Pulava carnaval no Nikkey Clube também. Eram os únicos lugares que meus pais permitiam na época, pois meus primos mais velhos tinham freqüentado os mesmos lugares, então eram vistos como “de confiança”.
A maioria dos meus amigos eram descendentes de japoneses também, e os que não eram acompanhavam a gente nessas baladas. Lembro-me de ir pela primeira vez ao Ipê e ficar surpresa com a quantidade de descendentes que eu via, porque a rua inteira era tomada por adolescentes e parecia que estávamos no Japão! Não preciso dizer a cara de assombro dos meus amigos que não eram descendentes de japoneses... Ficavam boquiabertos!
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil