Conte sua história › Silvio Sano › Minha história
“Mas, mãe, por que a senhora é contra o casamento de seus filhos com ‘gaijins’ se nunca reclamou deles quando os trouxemos pra casa?”, perguntei, certa vez, à minha mãe, muitos anos atrás. Não me recordo se ela vacilou antes de me responder, mas não tenho dúvida sobre sua resposta, porque me marcou bastante: “Amigo é diferente! O problema é que... se casa e dá um problema entre os dois, não posso ajudá-los por não entender direito o português.”
Fiquei estático! Nunca me passara pela cabeça esse raciocínio! O pior é que tinha lógica. Mas eu, assim como 99,9% dos nikkeis, tenho certeza, aguardaríamos uma postura racista para justificar a sua desaprovação. Né, não? Porém, como no ocidente o amor fala mais alto (ainda bem...) minha mãe teve de “engolir...”, digo, aceitar que três (42,85%!!) de seus sete filhos se casassem com não descendentes. E sou testemunha de que, tendo os três escolhidos bem os seus pares, ela nunca teve problemas de relacionamento com nenhum dos nossos “agregados estrangeiros”. E, pasmem! Eu, que por minha maneira de pensar, poderia desequilibrar a balança para o outro lado, dos não descendentes, acabei me casando com uma “genuína”! É... nascida lá no Japão! E, não apenas, não me arrependo (também, com ela, aqui, ao meu lado enquanto escrevo...), como ainda a chamo por “deusa” (ainda ao meu lado - rsrs). Os demais irmãos, ao que parece, também estão satisfeitos... ou conformados, até porque, agora, talvez já seja um pouco tarde demais, né.
De qualquer forma, o resultado dessa miscigenação toda acabou resultando em sobrinhos mestiços lindos e maravilhosos... Se bem que os demais, os “puros”, também os são (antes que eu apanhe...). Ou, como diria o meu cunhado Ricardo, descendente de espanhóis, a cada sobrinho: “Você é o meu sobrinho favorito !!” (longe dos demais, lógico). E eu, agora, também caminho para a miscigenação, já que meu filho namora e tende a casar com Kátia, uma descendente de alemã com português... também maravilhosa.
A verdade é que, independentemente das causas que trouxeram as mais de 60 nacionalidades imigrantes para o Brasil, compondo este país multirracial, devemos considerar, hoje, que somos privilegiados por podermos realizar intercâmbios culturais sem precisar cruzar fronteiras. Que país do mundo é capaz de realizar uma festa das Nações como fazemos, todos os anos, em várias regiões deste nosso imenso território? Quem ainda não viu uma, basta ir ao Memorial do Imigrante de São Paulo (www.memorialdoimigrante.sp.gov.br) em meados de junho, e aproveitar também para conhecer o seu rico acervo relativo a este tema, além de pisar naquele que, um dia, já foi a Hospedaria dos Imigrantes, com sua arquitetura preservada pelo CONDEPHAT.
Assim, em virtude dessa realidade incontestável e de nosso dia-a-dia atual, já repleto de preocupações, não devíamos nos ocupar em convencer outrem a ser o que nunca foi, se isso não comprometer a nossa relação. Respeitar-se, mutuamente, é o ideal. Ou seja, em país tão multi cultural e democrático como o nosso, todos, estamos sujeitos a nos relacionarmos com alguém de outra ascendência e nos darmos muito bem até. Em sendo assim, num mundo em que se apresenta de forma cada vez mais inumana e insensível... e, portanto, cada vez mais difícil até para se encontrar a tal "cara metade", quando isso vir a ocorrer, em vez de ficarmos criando problemas, não seria melhor estimularmos a relação?
PRA VOLTAR A SER FELIZ
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil