Conte sua história › Silvio Sano › Minha história
Na carona do tema levantado em sua história, pela jornalista Nádia Kaku, da equipe deste site da Abril, sobre os nomes brasileiros mais usuais dentre os filhos de imigrantes japoneses nascidos no Brasil, resolvi estendê-lo (o tema), mas, agora, sobre a escolha dos nomes japoneses. Lá mesmo, no meu comentário a ela, dei alguns exemplos, cuja característica é a ordem de nascimento pelo uso dos caracteres japoneses (kanji), tais como: Kazuo (1º homem), Jiro (2º homem), Mitsuo (3º homem), Shiro (4º homem) e, até, Goro (5º homem). Ufa! Parece que naquela época não tinha mesmo TV, né. Se bem que, em meu comentário, o exemplo do 4º homem era o do meu nome, Kazushi, que, literalmente traduzido, daria algo parecido com: 4ª paz! Vai ver que foi essa a conclusão que o meu pai teve ao me ver nascer, né (rsrs).
O engraçado é que não consegui me lembrar de nomes de mulheres neste contexto. Apenas um veio à minha mente, mesmo assim não consegui entender bem a razão: Hifumi (“1-2-3”, seria a tradução literal). Alguém poderia me explicar... além de citar outros exemplos de nomes femininos?
Bom, como este assunto dá muito”pano pra manga”, vou me restringir apenas aos exemplos em minha família, começando pelo nome do meu “nissan” (irmão mais velho): Jorge Tsuneharu. Como os caracteres japoneses possibilitam outras leituras, pasmem, a outra para “tsuneharu” seria “jooji”, ou seja, Jorge Jooji!! Só pode ter sido por querer, a intenção do meu pai. Né, não? Agora, outro aspecto interessante na família é que o primeiro caracter, “TSUNE”, prevaleceu em alguns, desde a do próprio vovô, Tsuneichi, até aos dos primeiros filhos e alguns netos, a saber: Tsuneshi, meu pai, primogênito; Tsuneo, tio, 2º filho; Tsunehiro, tio, 3º filho; Tsunekissa (registrado Sumeikissa – esses nossos cartórios!!), tio, 4º filho. Daí, prosseguindo, os netos contemplados foram: Tsuneharu, meu irmão, e os primos Tsunemi, Tsunetoshi, Tsunekazu, Tsuneyoshi, Tsuneyo, Yoshitsune (ops! este, inverteu!), Tsuneiti e Tsunekatsu.
Mas, para mim, o nome campeão em criatividade, dado pelo papai, é o do meu segundo “nissan”: Brasílio Hitomu! O nome japonês não é “japonês”!! (?) Verdade! Vejam só: Hi, vem de Hitler; To, de Tojo; e, Mu, de Mussolini; iniciais dos principais líderes das Potências do Eixo (Alemanha, Japão e Itália) na 2ª Guerra Mundial. Adivinhem quando ele nasceu? Exato! Em plena 2ª guerra! E o meu pai, que, pelo jeito, não era bobo, estando no Brasil, colocou-lhe o nome brasileiro de Brasílio!! Querem média melhor do que essa?
Outra coisa, o meu pai não deu nomes brasileiros às filhas porque achava que quando se casassem, recebendo os sobrenomes dos maridos, ficariam com nomes muito compridos...se bem que, para mim, foi um artifício para preservar sua linhagem (sobrenome) nos registros delas, mesmo a partir de seus novos “status”. Funcionou!
Para encerrar, apenas como curiosidade, mas muito estranho aos ouvidos dos “japãos novos”, deixo aqui algumas pronúncias abrasileiradas, usadas “em casa”:
Mitsuo = Mitió; Kazushi (o meu) = Kashê; Tsunemi = Mitián; Hideo = Ridé; Junhiti = Dinti; Tsunetoshi = Tocha; Hatsue = Ratué; Haruo = Raruó; Kinue = Kinué; Tsuneiti = Tiniti; Tsunekatsu = Kátio; Tsuyako = Tyuya; Kazuo = Kazuó; Mitsue = Mitiê; Akio = Aquió; etc.; além de “batianzinha” para a bisavó, que era pequenina, para diferenciar da vó, “batian”.
PS-1 (11/jan): Após a apresentação deste texto, acima, Chieko, Nádia e Samantha deram-me a mãozinha solicitada, trazendo-nos mais alguns nomes femininos. No caso do exemplo da Chieko, não se trata bem de uma tradução literal porque, assim como o meu Kazushi (4ª paz), Hatsue se traduziria como 1º ramo (ou galho). Mas, valem pela intenção, né. De qq forma, levou-me à lembrança de outro que, aí, sim, pode ser literal: Hatsuko (1ª filha). E de outro: Mitsuko (3ª filha). Mas não consegui me lembrar de como seria o para 2ª filha. Alguém mais poderia nos ajudar?
PS-2 (13/jan): Provocar os queridos leitores para que colaborem com o texto é, realmente, interessante e profícuo, conforme taí no PS-1, acima. E agora, além da dúvida levantada pelo sr. Nogami em relação ao nome da avó, aliás, formado pela composição de dois números (5 e 100 = Iwo), minha esposa acaba de me lembrar de Tsugiko que, literalmente, seria a "filha seguinte", mas com o sentido de segunda filha, "matando" assim a minha dúvida. Ou alguém teria outro exemplo melhor?
PS-3 (28/jan): Desde o meu PS-2 (13jan), acima, até hoje, outros colegas contaram-me mais novidades ainda sobre o tema. Pedi-lhes então para que escrevessem neste espaço a fim de que pudéssemos socializá-las com os queridos leitores. Mas como já se passou mais de duas semanas desde que isso ocorreu, e nenhum deles o fez até agora, resolvi então antecipá-las aqui. A minha amiga Eiko, por exemplo, lembrou-me de que existem Shitiros (7º filho homem) e Hatiros (8º filho homem) “aos montes”!! Se bem que não se lembrou de como seria para o caso de 6º filho. Alguém poderia nos ajudar? E no embalo desta, num outro dia, outro colega (Júlio) lembrou-me de que não existia Kuro (9º filho) porque a pronúncia deste, “kurô”, lembra outra palavra japonesa cujo significado é “sofrimento”. Dando-se, portanto, outro nome para o 9º e retomando a seqüência, ao 10º filho, com Jube ou Juro!! (Ufa! Ufa! Definitivamente, não havia mesmo TV naquela época!). Mas... é ou não interessante essa construção de nomes pela grafia japonesa?
PRA VOLTAR A SER FELIZ
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil