Conte sua história › Silvio Sano › Minha história
Quando alguém nos pede para contarmos uma passagem de nossa vida, remetemo-nos, naturalmente, às lembranças mais marcantes de nossa infância. Isso é até rápido. Se, além disso, pedem-nos algumas fotos, aí a coisa muda, fica mais trabalhosa, porque nos leva à busca dos “velhos” álbuns. Iguais àqueles que fazíamos apenas na infância e adolescência porque, daí em diante, vamos abandonando-os aos poucos. É, aliás, a mesma razão pela qual temos mais fotos (e álbuns) do primeiro filho do que dos seguintes.
Agora, quando nos pedem para que contemos nossas histórias e, ainda mais, com imagens... aí não tem jeito, temos de nos recorrer ao “baú”. Cada um tem o seu. Mas, todos, chegamos à conclusão de que, se para nós já é uma tremenda “trabalheira”, imagine aos historiadores e jornalistas que tem de fazer a mesma ação... para os “outros”!!
Eu mesmo já cumpri esse papel, certa vez, quando resolvi descobrir quando vieram os primeiros imigrantes da Província de Mie, onde o meu pai nasceu. Isso, porque o saudoso ex-presidente da Associação Mie Kenjin do Brasil, sr. Tohoru Nishi, e eu, vivíamos num debate (saudável) sobre esse assunto, apesar de sempre lhe afirmar que meu avô tinha vindo em 1918. Para ele, se fora anterior a 1930, teria sido pela Província de Wakayama, com troca, inclusive, do endereço residencial para aquela província. A sorte dele é que não sabia que minha mãe mantinha guardado o passaporte do meu avô paterno.
Daí, quando o grupo de karaokê dessa associação resolveu fazer concursos anuais de karaokê, no segundo, veio-me a idéia de descobrir os primeiros imigrantes originários daquela província. Busquei o lugar correto (Memorial do Imigrante da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo - www.memorialdoimigrante.sp.gov.br) e a pessoa certa (Da. Midory Kimura Figuti, diretora técnica do memorial, na época). Consegui: 2 navios - Wakasa Maru, em 1913 e Teikoku Maru, em 1914. Ao todo, 19 famílias! Fiz a chamada na mídia da comunidade e publiquei a lista dos imigrantes na mídia nikkei do Brasil solicitando para que seus familiares entrassem em contato com a associação a fim de que pudéssemos fazer-lhes uma homenagem.
Apenas três famílias nos atenderam. Mas, valeu a pena! Principalmente, no caso de um imigrante que fez o contato. Recebi o recado. Liguei-lhe. Quando se identificou (Kiohei Maekawa) e me disse a idade (92), o meu dedo buscou, na lista, o nome de sua família. Incrível! Eu estava falando com aquele que, na época em que desembarcara em Santos, era um bebê de 2 anos!! Fiquei emocionado. Conversamos. Ele, agora, mora em Araçatuba. Perguntei-lhe sobre a possibilidade de se locomover até São Paulo, devido à idade, e para a minha surpresa, contou-me que já fazia isso com certa freqüência, porque as filhas moravam na Capital. Daí, junto aos demais, que conseguimos contatar, recebeu a homenagem durante a abertura oficial daquele segundo concurso de karaokê, em 2004.
PRA VOLTAR A SER FELIZ
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil