Olá, faça o Login ou Cadastre-se

  Conte sua históriaAlexandre Nagado › Minha história

Alexandre Nagado

São Paulo
53 anos, quadrinhista, desenhista e redator

Um caso sobre a guerra


Meu avô paterno Chuzo Nagado, na época da Segunda Guerra Mundial, era um dos "derrotistas", pessoas esclarecidas que sabiam da situação do Japão no conflito mundial e se posicionavam contra ele. O Japão era um aliado do nazismo e inimigo do mundo ocidental, incluindo o Brasil, pátria que havia acolhido os imigrantes anos antes. Houve muito conflito e turbulência na época entre os imigrantes. Muitos estavam divididos entre a lealdade à pátria e seus ideais de paz. E havia os assassinos da Shindo Renmei fazendo vítimas, conforme retratado no livro "Corações Sujos", de Fernando Moraes. Meu avô era bem consciente da situação e manifestava publicamente suas opiniões sobre a guerra.

Sua posição contrária à posição do Japão lhe causou muitos desgostos e também quase custou sua vida em uma emboscada a tiros pela Shindo Renmei, mas ele resistiu, sobreviveu e protegeu sua família. Muitos anos depois, já no fim da vida, ele contou-me uma história que poucos imigrantes lembram, muitos não ficaram sabendo e que menos pessoas ainda têm coragem de mencionar.

Logo depois que o Japão declarou rendição após os bombardeios nucleares que sofreu, um impresso da colônia japonesa divulgou que não só o Japão havia vencido a guerra, como também que a moeda dos países derrotados - incluindo a do Brasil - iria perder o valor. Os imigrantes japoneses que tivessem seus cruzeiros deveriam trocar tudo por ienes. Na verdade, era o iene que havia perdido o valor por ser a moeda de um país derrotado. Os que caíram nessa conversa trocaram seu dinheiro por ienes, entregando todas as suas economias para pessoas que estavam espalhando a história falsa sobre a vitória do Japão. O passo seguinte dos iludidos foi fazer as malas e ficar esperando nos portos por navios japoneses que iriam levá-los de volta para seu lar. Uma triste espera que foi dando lugar a um sentimento de desolação e desespero por parte dos que foram descobrindo a verdade.

Foi algo muito triste, com japoneses explorando e enganando outros japoneses, um caso sombrio na história da imigração japonesa no Brasil. Mas que merece ser conhecida e divulgada. Alguns enriqueceram e deixaram fortunas para seus filhos e netos, que talvez nem tenham ficado sabendo da origem dos bens de sua família.

A guerra desperta o pior dos seres humanos e esse caso foi mais um exemplo disso.


Enviada em: 06/01/2008 | Última modificação: 06/01/2008
 
« Uma história sobre personalidade Os heróis e monstros japoneses »

 

Comentários

  1. Enivaldo Pires @ 19 Out, 2007 : 09:26
    Meu grande camarada e ex-professor de Mangá, Ale Nagado: Nada mais justo do que esta homenagem a quem tanto trabalha em prol da divulgação da cultura japonesa. Foi bom conhecer um pouco da sua história e tenho certeza que os seus antepassados, estejam onde estiver, estão muito orgulhosos de você. Um grande abraço!

  2. Ale Sakai @ 20 Out, 2007 : 23:09
    Nagadossan, Muito bacana a sua história aqui no site. Parabéns!

  3. Alexandre Nagado @ 29 Out, 2007 : 19:33
    Obrigado pela visita e pelo apoio, Enivaldo-san e Sakai-san! Depois quero ler suas histórias também.

  4. Lu @ 1 Nov, 2007 : 13:41
    Alexandre, supresa te ver! Preciso escrever meu nome inteiro senão não irá me reconhecer: Maria de Lourdes Uema Yokoya, estou em Nagano há 15 anos. Lembrou? Saudades de todos vocês. Veja minha foto e parte do meu trabalho no blog http://mariayokoya.blog.ipcdigital.com/?cat=1 Beijos

  5. Alexandre Nagado @ 1 Nov, 2007 : 15:15
    Olá, claro que lembro! Estávamos no seu casamento. Que legal saber mais sobre seu trabalho. Minha mãe vai ficar contente em ter notícias suas. Vou passar seu e-mail pra ela. Grande abraço a todos aí!

  6. Robinson Oliveira @ 2 Nov, 2007 : 23:47
    E aí meu amigo. Beleza? Legal este espaço da Abril.com relacionado ao centenário da Imigração Japonesa. Você fez um pequeno resumo de sua vida. Está de parabéns. Seguindo a M-78 com ULTRASEVEN. hehehe...

  7. RMax @ 4 Nov, 2007 : 13:21
    Nossa, que bacana, esse espaço está gerando encontros entre parentes. Muito legal. Ah, Alexandre, só para te lembrar o Reino Uchinan foi incorporado ao império japonês em 1868, século XIX, apesar de este ter o controle extra-oficial do território desde muito antes.

  8. Alexandre Nagado @ 5 Nov, 2007 : 10:42
    Você tem razão, eu me equivoquei ao citar o século. Se foi em 1868, então é século XIX, e não XVIII. Já corrigi no texto original. O território que viria a ser chamado Okinawa era mesmo controlado pelo Império Japonês desde que foi anexado no século XVI. Mas nessa época, não era considerado província e sim um território do império. Como província mesmo, ou seja, com seus cidadãos sendo chamados de japoneses, a História do arquipélago é bem recente mesmo. Obrigado pelo toque!

  9. Sílvio Sano @ 4 Jan, 2008 : 10:22
    É muito bom ver que os resultados das somas de curiosidade e atenção com muita aplicação em ações afins dão em pessoas como o Alexandre. Ganha ele e ganhamos nós. Desde a convivência com diitian Mauro até a entrada, "sem querer", como crítico de cinema, mesmo que específico, foram conquistas atreladas ao sangue que lhe corre nas veias, além da formação de berço imigrante, de luta incessante, com certeza. Hoje é uma referência no mangá nacional. Parabéns, Alê!

  10. Alexandre Nagado @ 5 Jan, 2008 : 10:38
    Obrigado pelas palavras generosas, Silvio. Assim vou ficar mal acostumado, ah ah. :-) Acho que o sentimento de "não desistir" e "ir até o fim" foi algo que acabou sendo incorporado, sem que eu percebesse. Sem isso, eu já teria desistido da carreira. E continuo na batalha, como sempre. Abraços!!!

  11. Izidório @ 21 Fev, 2008 : 14:00
    Nagado, até hoje seu "Almanaque da Cultura Pop Japonesa" ainda é referência no assunto, principalmente porque explora a música japonesa muito além do trivial para os brasileiros (leia-se: Músicas de anime e tokusatsu) e muitos acabam com a curiosidade de pesquisar e ouvir mais, por exemplo, eu sou um grande apreciador da ótima banda Anzen Chitai. E continuei pesquisando, até conhecer outros artistas de J-pop mais antigo (anos 80, como Nakamori Akina, Matsuda Seiko, Shibugakitai, Ishikawa Hidemi, Ishii Akemi e Bakufu Slump; e anos 70 como os grupos Alice, Candies e Kaguyahime, e cantores do porte de Sawada Kenji, Saijo Hideki, Sakurada Junko, Ota Hiromi e tantos outros) O "Almanaque" terá uma reedição ou uma atualização em planejamento?

  12. Alexandre Nagado @ 22 Fev, 2008 : 01:28
    Olá, Izidório. Por enquanto, não há previsão para um segundo volume do Almanaque. Mais pra frente, quem sabe... Valeu a força! Abraços!

  13. Rita de Cássia Arruda @ 9 Abr, 2008 : 23:36
    Alexandre: Deliciosas as histórias que você compartilhou aqui conosco. Parabéns e obrigada por dividir com os demais depoentes e internautas essas maravilhosas memórias de sua infância e juventude. Quando meu irmão André voltou do Japão, me trouxe de presente um Mangá, que eu havia pedido - uma vez que sempre tive curiosidade de saber de que forma era retratada a História em Quadrinhos japonesa - e embora eu não entenda rigorosamente nada do que ali está escrito guardo com carinho a preciosa "relíquia". Assim como você, eu também via muito "Speed Racer" na TV, quando criança. Adorava o desenho animado. Quanto ao Jaspion, tem uma história engraçada sobre o personagem. Certa vez, preparei uma festa de aniversário para o Gabriel, meu primo e afilhado, então com 5 anos de idade, e esse era o tema da festa. Na segunda-feira, coloquei no carro os enormes bonecos alugados, para devolver na loja de festas, e as crianças dos outros carros acenavam para mim quando eu parava no sinal ou passava por elas no trânsito. Os adultos riam; achavam engraçada aquela cena bizarra, mas tudo na boa, com muito bom humor. Parabéns pelo trabalho fantástico que você desenvolve, como desenhista. Um abraço.

  14. Valéria @ 21 Abr, 2008 : 15:39
    Olá, Alexandre! Li sua história e fiquei curiosa, pois meu bisavô se chamava Sheifo Uema e veio para o Brasil no Kasato Maru.Infelizmente, não sei quase nada sobre minha família japonesa. Um abraço e felicidades. Talvez sejamos parentes distantes. Quem sabe?

  15. amandinha @ 21 Jun, 2008 : 11:41
    meu nome é amanda tenho 13 anos moro em cananeia litoral sul de sao paulo gostei mtu d sua história ahh o nome do meu avo éra assim vai q a gent é parente?? bjuss de todos de cananeia xauuuuuuuuuu...!!! [:D]

  16. Alexandre Nagado @ 21 Jun, 2008 : 21:40
    Valéria e Amanda, que coincidência as mensagens que vocês mandaram. Escrevam pra mim e vamos descobrir se temos parentesco. nagado@nagado.com

  17. Dario @ 25 Jun, 2008 : 09:50
    Parabéns pela brilhante história e carreira idem. Legal te encontrar aqui. Grande abraço!

Comente



Todo mundo tem uma história para contar. Cadastre-se e conte a sua. Crie a árvore genealógica da sua família.

Árvore genealógica

Histórias

Vídeos

  • Nenhum vídeo.

| mais fotos » Galeria de fotos

Áudios

  • Nenhum áudio.
 

Conheça mais histórias

mais perfis » Com o mesmo sobrenome

mais perfis » Com a mesma Província de origem

 

 

As opiniões emitidas nesta página são de responsabilidade do participante e não refletem necessariamente a opinião da Editora Abril


 
Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil

Sobre o Projeto | Cadastro | Fale Conosco | Divulgação |Termo de uso | Política de privacidade | Associação | Expediente Copyright © 2007/08/09 MHIJB - Todos os direitos reservados