Conte sua história › Alexandre Nagado › Minha história
Desde criança, gostava da maioria dos desenhos e seriados japoneses que passavam na TV. Num primeiro momento, eram "Speed Racer" (que só depois descobri ser uma produção japonesa), "Super Dínamo" (onde o herói Mitsuo vivia comendo “bolinhos de arroz”), "A princesa e o cavaleiro" e outros. E havia os seriados com atores, como "Ultraman", "Ultra Seven" e "Robô Gigante", que eram os meus favoritos. Neles, eu podia ver ruas, escolas e pessoas, mais ou menos como devia ser no Japão de verdade (sem os monstros gigantes, claro). Na TV, eu também assistia ao "Imagens do Japão" e ao "Japan Pop Show", programas divertidos que traziam a cultura japonesa para dentro de casa. Na música, o J-pop (pop-rock japonês) e as anime songs (músicas dos seriados) sempre me atraíram, mesmo que eu não entendesse uma única palavra na época.
Lá nos distantes anos 70 e começo dos 80, eu tentava desenhar meus heróis de infância, a maioria japoneses, sentado em frente à TV. Antes do videocassete, e sem fotos de referência, eu ficava assistindo aos seriados e tentando copiar detalhes e formas, especialmente monstros e heróis. Sem dúvida, isso me estimulava a desenhar – e rápido. Em 1986, aos 15 anos, fui estudar desenho com o professor Ismael dos Santos, do Núcleo de Arte, pensando em criar meus próprios personagens e gibis. Aprendendo desde cedo a dificuldade de se trabalhar com quadrinhos no Brasil, fui diversificando meu trabalho para não depender do inconstante mercado editorial daqui. Ainda assim, consegui me tornar desenhista profissional e cheguei a publicar ilustrações e quadrinhos em estilo mangá diversas vezes.
No início da década de 1990, escrevi histórias em quadrinhos licenciadas sobre heróis de diversos seriados japoneses, como "Changeman", "Sharivan", "Flashman", "Goggle V" e outros. Teve também a revista Street Fighter, com personagens de um famoso game japonês. E criei alguns personagens com fortes influências pop japonesas, como Blue Fighter, Dani e Amigos da Água, um projeto institucional. Acabei me tornando também um pesquisador dessa área de personagens japoneses, por conta de minha grande curiosidade em conhecer os bastidores da produção dos seriados que tanto curtia. Meio sem querer, comecei a escrever sobre filmes de monstros japoneses e aos poucos fui ampliando o leque, ajudando a criar uma imprensa especializada nesse tipo de universo.
Como redator, escrevi sobre alguns dos diversos aspectos da cultura pop japonesa, como mangá (quadrinhos), animê (desenhos animados), tokusatsu (os filmes e seriados com efeitos especiais) e música. Apesar de não ser restrito a essa indústria de consumo jovem, o meu foco principal e motivo de vários convites para publicações sempre foi ligado a personagens japoneses. De 1993 para cá, foram tantas matérias escritas que parte do material foi compilado num livro, o "Almanaque da Cultura Pop Japonesa". (Se quiser saber mais sobre esse livro e sobre meu trabalho, veja meu site: www.nagado.com )
Com o consumo cada vez maior de elementos da cultura pop japonesa, como mangás, games, animês, seriados e músicas, uma parte do Japão se incorpora na vida de muita gente aqui no Brasil, independente de ascendência. De certa forma, me sinto parte disso tudo. Totalmente brasileiro, mas com uma forte ligação com o Japão. Afinal, mesmo tendo essa ligação sido construída fora de tradições, se meus avós não tivessem saído de Okinawa na primeira metade do século passado, eu não estaria aqui.
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil