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Meu pai veio muito contrariado para o Brasil. Meus avós já não gostaram muito que ele viesse. E, para os meus tios, foi meio “esqueceram a gente aqui”. Minha mãe sempre pedia para virem visitar, mas eles nunca demonstraram nenhuma intenção de vir para o Brasil. Então, nosso contato com o Japão acabou ficando muito distante. Eu não tenho essa referência que toda família tem. Nunca tive.
Meu pai chegou em 1960, com uns vinte e poucos anos. Veio através de um contato com uma pessoa muito importante na comunidade japonesa daqui, que era o senhor Kiyoshi Yamamoto. Ele era proprietário de uma fazenda chamada Tozan, e lá ele tinha um instituto. Queria trazer para o Brasil imigrantes japoneses com nível superior para começar a compor outro nível social aqui. Até então, só lavradores vinham para cá.
Dois anos depois, minha mãe veio. Casaram-se naquela igreja presbiteriana na Nestor Pestana e, em seguida, foram para Presidente Prudente (SP), onde meu pai montou um armazém de venda de materiais agrícolas com mais quatro sócios. Depois os sócios quiseram ir embora e ele montou a primeira loja dele, que se chamava Agrotécnica de Presidente Prudente. Nossa casa era em cima. Perto de 1970, ele comprou uma chácara e plantou uva. Logo depois, arrendou um sítio e plantou melão. Diz ele que foi o primeiro a plantar aquele melão amarelo no Brasil (veja esta e outras histórias nos depoimentos em áudio e vídeo).
Nesse mesmo ano, com o dinheiro da uva e do melão, meu pai resolveu ir para o Japão com a família toda. E fomos de avião. Da turma da Universidade de Osaka que veio para o Brasil – no total foram 60 pessoas –, ele foi o primeiro a poder voltar para o Japão naquelas condições. Ele foi considerado o mais bem-sucedido da turma. Era também uma forma de mostrar ao meu avô que ele havia feito uma boa escolha.
Foi nessa viagem que meu pai perguntou para a minha mãe se ela queria voltar para o Brasil. Se ela falasse que não, nós ficaríamos permanentemente lá. Mas a minha mãe disse: “Não, eu gostei do Brasil e gostaria de voltar”. Para ela, era também o lugar do sucesso. Eu percebi isso quando fui pela segunda vez a Nova York, com uns 25 anos. Depois de passar três dias procurando emprego de porta em porta, consegui uma vaga de ajudante de garçom. Meio ano depois, eu já era gerente do restaurante. Isso me fez dar valor ao espaço que eu conquistei.
Como meu pai estava sempre em contato com a colônia japonesa em Presidente Prudente, ele me colocou para jogar beisebol. O campo era afastado da cidade, do lado da fábrica da Bordon. Eu não me dava muito bem, era o patinho feio. Eu até gostava do esporte, mas não me enturmava. Um dia, desci do ponto de ônibus e resolvi não entrar. Fiquei o dia todo passeando e voltei para casa a pé. Fiz isso durante meses, até que meu pai descobriu e me mandou voltar. Acabei ficando uns quatro anos no time.
No meio da década de 70, meu pai resolveu plantar tomate no Paranapanema (SP). Na mesma época, meu irmão faleceu. Foi durante uma viagem a Foz do Iguaçu (PR). Quando chegamos ao hotel, ele teve um ataque cardíaco, caiu na piscina e morreu afogado. Ele tinha nove anos, e eu tinha dez. Depois disso, veio a geada que acabou com toda a plantação de tomate. Aí, falência total, dívida em banco. Meu pai vendeu a loja, a casa, a chácara, tudo. Acho que foi a época mais difícil da vida dele.
Depoimento ao jornalista Xavier Bartaburu
Fotos: Everton Ballardin e arquivo pessoal de Jun Sakamoto
Vídeos e áudios: Estilingue Filmes
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil