Conte sua história › Jun Sakamoto › Minha história
Nós viemos para São Paulo num fusca marrom. Eu, meu pai, minha mãe, meu irmão, minha irmã, meu cachorro e um amigo. Todo o mundo empilhado no fusquinha. Fomos morar num apartamento alugado no bairro da Aclimação, na Rua Guimarães Passos. Era um quarto para a gente, um quarto para os meus pais. Para mim, era uma vida nova para começar, era quase como os meus pais vindo para Presidente Prudente. Aqui ninguém sabia que eu era o patinho feio do beisebol. Eu tinha que conquistar tudo de novo.
Em São Paulo, comecei a jogar rúgbi. Era o meu grande barato. Tinha um campo que ficava no Nippon Country Club, em Arujá (SP). Era lá que a gente treinava todo domingo. Minha adolescência toda foi marcada pelo rúgbi. Isso foi muito importante para a formação do meu caráter, dos meus valores. Foi nessa época também que eu conheci a Sayuri, que depois viria a ser a minha esposa. Mas naquele momento ela não queria nada comigo.
Para o meu pai, lembro que os primeiros cinco anos em São Paulo foram muito difíceis. Ele foi trabalhar na Agrotécnica de São Paulo, com um conhecido dele, e só depois de pagar as dívidas no banco é que ele partiu para montar seu próprio negócio, uma empresa de insumos agrícolas. Acabou desenvolvendo uma espécie de vitamina para a planta, um produto à base de uma enzima de sangue de peixe que ajuda a aumentar os hormônios. Mas a empresa não cresceu tanto quanto poderia. Meu pai não é muito bom de comércio. Ele é muito correto. Correto até demais. Minha mãe, para ajudar no orçamento, foi trabalhar na joalheria Oriente, na Liberdade.
Aos 18 anos, durante as férias de escola, fui pela primeira vez a Nova York (EUA), com o dinheiro emprestado de um amigo. Fiquei uns três meses lá, trabalhando em restaurante japonês. Voltando, prestei vestibular para agronomia. Não passei e fui fazer um ano de cursinho. De repente, eu resolvi que queria ser fotógrafo. Meu pai surtou. Disse: “Você pode até morar aqui dentro, mas não te dou um tostão. Só comida e lugar para você dormir”. Aí fui trabalhar como sushiman, e disso eu tirava meu sustento.
Pouco tempo depois, um amigo me chamou para montar uma produtora independente. Em 1988, com essa produtora, fui ao Japão pela segunda vez. Ficamos um mês gravando um programa sobre o Japão moderno. A gente queria mostrar os novos movimentos, a japonesada pirada, com os cabelos coloridíssimos. Na época eu ainda tinha muito daquele complexo de rejeição do oriental. Eu era o japonesinho dos olhos rasgados, e vivia sendo ridicularizado. Quando eu comecei a montar esse programa, era uma busca dos valores bons do Japão. Eu queria ser o japonês que tem coisa bacana para mostrar.
Depoimento ao jornalista Xavier Bartaburu
Fotos: Everton Ballardin e arquivo pessoal de Jun Sakamoto
Vídeos e áudios: Estilingue Filmes
Sushi tradicional em ambiente moderno
Mãe de Jun aprendeu português vendo TV
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil