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Jun Sakamoto

São Paulo / SP - Brasil
59 anos, empresário

Vida nova em São Paulo


Nós viemos para São Paulo num fusca marrom. Eu, meu pai, minha mãe, meu irmão, minha irmã, meu cachorro e um amigo. Todo o mundo empilhado no fusquinha. Fomos morar num apartamento alugado no bairro da Aclimação, na Rua Guimarães Passos. Era um quarto para a gente, um quarto para os meus pais. Para mim, era uma vida nova para começar, era quase como os meus pais vindo para Presidente Prudente. Aqui ninguém sabia que eu era o patinho feio do beisebol. Eu tinha que conquistar tudo de novo.

Em São Paulo, comecei a jogar rúgbi. Era o meu grande barato. Tinha um campo que ficava no Nippon Country Club, em Arujá (SP). Era lá que a gente treinava todo domingo. Minha adolescência toda foi marcada pelo rúgbi. Isso foi muito importante para a formação do meu caráter, dos meus valores. Foi nessa época também que eu conheci a Sayuri, que depois viria a ser a minha esposa. Mas naquele momento ela não queria nada comigo.

Para o meu pai, lembro que os primeiros cinco anos em São Paulo foram muito difíceis. Ele foi trabalhar na Agrotécnica de São Paulo, com um conhecido dele, e só depois de pagar as dívidas no banco é que ele partiu para montar seu próprio negócio, uma empresa de insumos agrícolas. Acabou desenvolvendo uma espécie de vitamina para a planta, um produto à base de uma enzima de sangue de peixe que ajuda a aumentar os hormônios. Mas a empresa não cresceu tanto quanto poderia. Meu pai não é muito bom de comércio. Ele é muito correto. Correto até demais. Minha mãe, para ajudar no orçamento, foi trabalhar na joalheria Oriente, na Liberdade.

Aos 18 anos, durante as férias de escola, fui pela primeira vez a Nova York (EUA), com o dinheiro emprestado de um amigo. Fiquei uns três meses lá, trabalhando em restaurante japonês. Voltando, prestei vestibular para agronomia. Não passei e fui fazer um ano de cursinho. De repente, eu resolvi que queria ser fotógrafo. Meu pai surtou. Disse: “Você pode até morar aqui dentro, mas não te dou um tostão. Só comida e lugar para você dormir”. Aí fui trabalhar como sushiman, e disso eu tirava meu sustento.

Pouco tempo depois, um amigo me chamou para montar uma produtora independente. Em 1988, com essa produtora, fui ao Japão pela segunda vez. Ficamos um mês gravando um programa sobre o Japão moderno. A gente queria mostrar os novos movimentos, a japonesada pirada, com os cabelos coloridíssimos. Na época eu ainda tinha muito daquele complexo de rejeição do oriental. Eu era o japonesinho dos olhos rasgados, e vivia sendo ridicularizado. Quando eu comecei a montar esse programa, era uma busca dos valores bons do Japão. Eu queria ser o japonês que tem coisa bacana para mostrar.

Depoimento ao jornalista Xavier Bartaburu
Fotos: Everton Ballardin e arquivo pessoal de Jun Sakamoto
Vídeos e áudios: Estilingue Filmes


Enviada em: 26/10/2007 | Última modificação: 31/10/2007
 
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Comentários

  1. madoka otsuka @ 13 Out, 2007 : 01:52
    Muito bacana o depoimento do Jun Sakamoto. Gostei de ler a trajetória do pai, da família toda, desde o Japão até as agruras em terra brasilis. Mas e depois da época mais difícil da vida do pai dele, e o resto da História? O pai, segue plantando tomates, melões????? História de vida, vale a pena ser contada... abraços Madoka

  2. tatnakata @ 26 Out, 2007 : 23:13
    A mãe do Jun Sakamoto, eu a conheci em Pres.Prudente, senhora muito simpática. Meu pai tinha um empório no Mercado Modelo e ela sempre ia fazer compras lá. (Empório Hiranobe, saudades daqueles tempos). Tatsue.

  3. martayobr@gmail.com @ 5 Nov, 2007 : 22:58
    Um pouco da sua história até que sabia, através da Mari Hirata, mas não sabia que o seu pai viera para o Brasil como kenshuusei para a Fazenda Tozan, através do meu avo, Kiyoshi Yamamoto...

  4. Yassuda Renato @ 9 Jan, 2008 : 16:57
    Prezado sr. Jun Sakamoto; Achei bastante interessante seu relato de vida, em particular o fato de que nossos ancestrais vieram da província de Kagoshima. Também fiquei curioso em saber se o município de Paranapanema que o senhor se refere é o mesmo onde atuo como gerente de uma cooperativa agro industrial. Se o senhor puder, po favor me envie mais detalhes. Aproveito para convida-lo a ler meu relato de vida também. Ficarei muito honrado.

  5. Kelly Nagaoka @ 18 Fev, 2008 : 16:21
    Oi Jun! Que história bonita! Fiquei emocionada! Bjs

  6. Telma @ 16 Ago, 2008 : 23:23
    É muito bom conhecer as histórias dessa "brava gente japonesa!" E sua história?! Deve encher de orgulho seus pais, como enche de orgulho a nós, descentes de japones. Engraçado, embora Presidente Prudente tenha uma grande concentração de japoneses e descentes, não me lembro de ter um restaurante japonês, pelo menos pelo tempo em que morei lá. Quando eu for a São Paulo (moro em Brasílía/DF)tentarei conhecer ao seu restaurante.

  7. REGINA CURY @ 14 Out, 2008 : 04:06
    .........PARABÉNS JUN SAKAMOTO!!! ..........Sua história é "ALTO-ASTRAL"!!! ...........Que "PAPAI do CÉU"...Te Cubra de Bençãos!! Meu Carinho, REGINA CURY www.altoastralnatv.com.br

  8. Mônica @ 19 Jul, 2009 : 11:34
    A história de vida da família de Jun Sakamoto, como de tantos outros emigrantes, é bem sofrida. Achei muito bonita a história! Quanto à colocação do Sr. Yamamoto, achei bem medíocre, se ele pretendia formar uma elite cultural aqui no Brasil, com certeza não o incluíram. Os emigrantes que saíram do Japão sempre foram mal vistos, mas como a própria família de Jun Sakamoto mostrou superação, e hoje vivem aqui como sua nova Pátria. O interesse de países mais desenvolvidos nunca é elitizar o subdesenvolvido e sim buscar novas formas de exploração mais rentável e produtiva. Mas pelo visto o Sr. Yamamotonão não aprendeu isso na escola em que ele frequentou: A escola de composição de novos níveis sociais no Brasil!!!

  9. Léo @ 7 Dez, 2009 : 01:29
    telma me desculpe mas em Presidente Prudente hoje temos 7 restaurantes japoneses e um deles é meu a cinco anos, se um dia vier visitar a cidade me faça uma visita para poder provar minha comida é claro que não chega nem aos pés do jun que é um dos melhores do mundo mas quebro o galho

  10. rico @ 23 Ago, 2010 : 12:50
    Jun, parabéns...mas você não é um sortudo na vida, sorte é quando cai e passa rápido. Você seria bom em qualquer coisa que fizesse. Sua escola foi além de qualquer universidade, você foi educado para ser vencedor desde pequeno, talvez mesmo nao sabendo...vivendo o nucleo da sua familia.

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