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Janela Dekassegui

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21 Fev, 2008

Japoneses que aprendem português

Ewerthon Tobace

Nestes sete anos de Japão, conheci muitos japoneses que falam ou que estão aprendendo o português. A maioria quer se comunicar no idioma de Camões porque, é óbvio, têm alguma afinidade com o Brasil ou Portugal. Os jovens, invariavelmente, são apaixonados por futebol, música brasileira (entenda-se samba ou bossa nova), capoeira e afins.

Mas no último mês conheci alguns japoneses de meia idade que estudam, sozinhos, o português porque querem ajudar os brasileiros que estão aqui no Japão. São profissionais dos mais variados ramos: tem policial, farmacêutico, professora etc. Um deles me chamou a atenção e, inclusive, resolvi fazer uma entrevista para a revista Alternativa Nishi, que já circula pelas lojas brasileiras nesta semana. Abaixo, reproduzo um trecho do texto:

Ele já foi duramente criticado por conterrâneos e não raramente participa de discussões acaloradas sobre a presença de forasteiros na cidade. Mesmo assim, o vereador japonês Tsuge Hiroichi, 54 anos, não desiste de levantar a bandeira em favor dos estrangeiros de Minokamo (Gifu). “Se não nos esforçarmos agora para resolver os problemas, no futuro eles serão bem maiores e mais complicados de se encontrar soluções”, prevê o político.

O japonês teve o primeiro contato com os problemas dos estrangeiros há cerca de seis anos, quando assumiu o cargo de vereador pela primeira vez. “Trabalhei diretamente com a Associação de Intercâmbio Internacional e foi quando fiz muitas amizades com brasileiros”, conta. Desde então, passou a lutar pelas causas das minorias.

Para entender melhor os anseios dos estrangeiros, em especial os brasileiros, Hiroichi passou a frequentar todos os eventos da comunidade. Faz parte também de uma organização sem fins lucrativos voltada a educação de brasileiros, a Associação Amigos do Brasil (new SAB) e, ainda se esforça no aprendizado do idioma português. Mas ainda é pouco para ele. “Quero que mais japoneses aprendam o português para que conheçam melhor os brasileiros”, diz.

Na conversa que tive com o político ficou claro que a intenção dele não visa lucro ou vantagens. Aliás, ele só tem é problemas para resolver. Fiquei também envergonhado ao perceber que ele não quis esperar os brasileiros aprenderem japonês. Foi à luta e resolveu estudar o português. Fica o questionamento: será que são os japoneses que têm de se adaptar à falta de interesse e boa vontade dos brasileiros? São eles quem têm de aprender o nosso idioma para resolver os nossos problemas? Hiroichi acha que sim, porque se for esperar vai demorar muito para que as coisas realmente andem.

Em tempo: o político começou a estudar nosso idioma há três anos. Hoje ele já está, digamos, fluente na língua. Pelo menos consegui fazer a entrevista toda em português. Ele comprou livros, CDs e fez as lições todas sozinho. Quando aprende uma palavra nova ele a repete até memorizar. Taí outro bom exemplo para seguir.

Postado por Ewerthon Tobace | 18 comentários

Comentários

  1. Ken @ 22 Fev, 2008 : 01:58
    É uma vergonha mesmo! Eu faço a minha parte, estudo todos os dias também os milhares de kanjis, que consequentemente são compostos por bilhões de pauzinhos, e assim eu quebro a cabeça. É uma pena que a brasileirada aqui no Japão não se interessa, apesar das dificuldades, a maioria prefere ficar no "dekasseguês".

  2. Haru Natsu @ 22 Fev, 2008 : 11:18
    haru natsu na band tv segunda feira 22 horas

  3. Karina Almeida @ 22 Fev, 2008 : 22:26
    a vida na comunidade brasileira aqui no japao eh muito comoda. so agora entendo porque tem gente que mora aqui ha 10, 15 anos e nao fala japones. pra que?? tem tudo quanto eh tipo de loja e servico pra brasileiro e ainda interpretes em varios orgaos do governo e tambem em hospitais. mas a gente sabe que a qualidade de vida de quem fala japones eh muito melhor! da para conhecer mais coisas, mais pessoas e o melhor de tudo: ser independente! to tentando e acho que aos pouquinhos estou conquistando essa independencia (^_^)v

  4. Paulo @ 22 Fev, 2008 : 23:10
    Acho o trabalho do sr. Tsuge louvável. Porém, concordo com o sentimento de vergonha. E concordo também com a Karina. Se por um lado foi criada uma estrutura para facilitar a vida dos brasileiros aqui no Japão, essa mesma estrutura contribui muito com a acomodação do grupo. Mas talvez seja assim mesmo que deva ser, de forma com que somente os reais interessados busquem o aprendizado. A médio prazo, o próprio mercado de trabalho trata de fazer a seleção natural entre eles. Ótimo post! E o café continua de pé! Abraços

  5. RMax @ 23 Fev, 2008 : 22:25
    Gente, a estrutura é importante à medida que as pessoas ainda não sabem a língua. O problema é que parece que a cultura do nosso povo é de "se encostar". Viemos de uma sociedade paternalista na qual, mesmo que seja apenas em época de eleição, o governo "dá" coisas. Aliás, falarmos "dar" ou "oferecer" ao invês de "prestar" é algo bem significativo. Além disso, eu concordo muito com uma antropóloga brasileira que estuda o corpo como "capital" no Brasil. Você vê que a garotada (e a não tão garotada assim) está com o corpitcho todo em dia. Ou seja, as pessoas têm tempo pra malhar. Mas, não têm tempo para aprender japonês, certo? Claro que, como pesquisas já comprovaram, para entrar no mercado de trabalho dekassegui o japonês não é indispensável. E o que ganha a mais alguém que sabe a língua não é, mesmo, muita coisa. Mas, pensando no fato de que a maioria planeja o retorno ao Brasil, o mínimo de capital cultural facilmente acumulável é a aquisição da língua do país que é a terceira maior economia mundial e um dos maiores mercados, inclusive para produtos brasileiros, com possibilidades de expansão. Mas, as pessoas preferem investir na beleza física. São escolhas. E há consequências para cada uma delas.

  6. madoka otsuka @ 23 Fev, 2008 : 22:30
    Oi Ewerton, Sempre qdo passo por aqui, vc tem algo interessante p/ refletirmos. Realmente, é como a Karina comentou, tem muitos brasileiros q moram aqui há anos, e não se viram sozinhos p/ fazer coisas básicas...tudo bem, pode até ser comodismo dos próprios brasileiros, mas a gde maioria trabalha p/ empreiteiras e os mesmos tem intérprete p/ tudo, ou seja, querem a dependência, p/ alguns lucrarem entendeu? uma vez independentes, podem se virar sozinhos...sei lá acho q é isso, e outras cositas mas... BJS, falei sayonara Madoka

  7. depasargada @ 25 Fev, 2008 : 10:54
    blog sempre de parabens e a critica que vc faz é sempre muito consistente e seria.

  8. budista @ 25 Fev, 2008 : 11:17
    vai ter culto budista no IMIN 100

  9. Carlos Shibata @ 26 Fev, 2008 : 13:18
    É uma vergonha mesmo, fico revoltado sempre que vejo caso de pura falta de interesse de alguns brasileiros para aprender a lingua japonesa. Sei que é complicado pois trabalhar e estudar é muito cansativo, mas o fato de aceitar a cultura nova ja ajuda muito, muitas vezes as pessoas ficam com vergonha ou intimides e não tenta falar pois sabe se comunicar. Outro ponto, foi quando decidi começar a fazer aulas, e uma pessoa veio me perguntar o porque? Achei isso um absurdo pois estou em um pais estrangeiro e não posso esperar eles virem se adaptar as minhas necessidades. Mas esta semana ouvi a mesma pergunta só que de uma japonesa, ela queria saber o porque eu estava aprendendo japonês. Mas expliquei para ela que para poder me comunicar com as pessoas, conseguir um trabalho melhor. Para finalizar, parabéns pelo blog e tentarei acompanhar sua coluna na alternativa. Abraço Carlos Essei Shibata

  10. Ewerthon @ 27 Fev, 2008 : 03:51
    Ken, fico feliz em saber que alguns (poucos) se interessam e procuram aprender a cultura e o idioma japonês.Seu exemplo deve ser seguido... Quem sabe vc não consegue convencer seus amigos a estudar também... Boa sorte e volte mais vezes!

  11. Ewerthon @ 27 Fev, 2008 : 03:52
    Karina, sei que vc se esforça no aprendizado do japonês. Mas não force a barra. Um dia vc chega lá!

  12. Ewerthon @ 27 Fev, 2008 : 03:56
    Paulo, o que mais me incomoda é ver brasileiros falando mal do Japão e da língua e não moverem uma palha para mudar a situação. Mas, como vc disse, um dia o mercado de trabalho vai fazer a seleção natural...

  13. Ewerthon @ 27 Fev, 2008 : 03:58
    Roberto, gostei da comparação em relação ao corpo. Aí é a questão, novamente, das prioridades... infelizmente, para a maioria, aprender a cultura e língua local não está nem na lista...

  14. Ewerthon @ 27 Fev, 2008 : 04:00
    Ola Madoka! Que bom vê-la por aqui!! Tenho de concordar plenamente com vc. Muitas empreiteiras preferem que o empregado seja um dependente e, por isso, fazem de tudo para que ele não tenha tempo para adquirir os conhecimentos. A comodidade acaba construindo o operário "exemplar"... Mandou bem!

  15. Ewerthon @ 27 Fev, 2008 : 04:01
    Ola Depasargada, obrigado pela visita e pelos elogios! Volte sempre e deixe registrado seu ponto de vista também!

  16. Ewerthon @ 27 Fev, 2008 : 04:03
    Ola Carlos Shibata, bem-vindo ao blog e obrigado pelo elogio. Concordo com vc que é complicado conciliar trabalho e estudos e também que há fala de interesse dos brasileiros, infelizmente. Quando os primeiros brasileiros que saírem da faculdade começarem a colher os frutos, aí quem sabe a comunidade dê mais valor aos estudos...

  17. 留学生 @ 28 Fev, 2008 : 03:14
    Eu concorco com RMax, meu arqui-rival(笑) neste espaco cibernetico. O que pega eh o comodismo. Mas nao pensem que o comodismo eh excluivo dos brasileiros, nao. Estrangeiros, de uma forma geral nao estao nem ai para o japones e a populacao local tambem nao espera que estrangeiros falem japones, alias, eles impoe ingles a estrangeiros. Um amigo meu, que eh nikkei, me contou que quando ele era pequeno e morava com a familia aqui no Japao, teve um incidente no supermercado e, apesar de seus pais estarem falando em japones, o gerente veio falando com eles em ingles katakanizado, o ingles da maioria dos japoneses(笑), e ai virou uma confusao so. A exemplo do que aconteceu com o Carlos Shibata, logo quando comecei a me dedicar ao japones, um polonesa da faculdade me perguntou porque eu estudava japones... depois, uma japonesa, aqui tambem da faculdade, me fez a mesma pergunta e frisando que estrangeiros que falam ingles nao precisam de japones no Japao... vai entender, ne? Com a internet, da para aprender japones muito rapido. Tem dicionarios, textos, audios, videos... um monte de material. Mas a maioria prefere "bloggar" a estudar. Ou ir a academia, como alguem ja falou.

  18. Claudia Yoscimoto @ 9 Mar, 2008 : 22:30
    Fico feliz de ver que a comunidade pode contar com mais um representante japonês de peso. E entendo também porque ele seja muito criticado entre seus colegas, já que a maioria acredita que o esforço primeiro tenha que vir da nossa parte. Acho que tem de haver um equilíbrio, mas concordo com o que o pessoal disse, que o brasileiro é muito acomodado e não se interessa, em geral, pelos estudos aqui. Eu procuro me aproximar dos japoneses e tentar aprender tudo o que posso com eles. Minha meta é saber me comunicar no idioma local e me tornar plenamente independente. Por isso, no que posso, me viro e sempre evito tradutor. É difícil, mas não impossível. Basta querer e se esforçar para isto. Eu estou tentando.

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Perfil

Ewerthon Tobace, jornalista, 31 anos. Um dia, meu avô resolveu enfrentar o desconhecido. Chegou ao Brasil de mala e cuia, sem falar a língua. Agora, faço o caminho inverso e, a cada dia, descubro os fascínios da ‘terra do sol nascente’. Moro no Japão desde 2001 e trabalho na mídia étnica com foco na comunidade brasileira.
 



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