Zen walk

O dia em que escrevi meu último post, 28 de julho, foi o dia em que comecei a caminhar. Me propus a andar durante uma hora por dia, faça frio ou faça sol. E logo depois da primeira caminhada, descubro uma baita bolha por causa do tênis novo (o que vc vê acima é o tênis velho que, sabiamente, voltei a usar). Justo eu, que nunca tenho bolhas, ganhei uma, enorme, que desafiava o meu propósito. Eu podia esmorecer, como fiz outras vezes. Eu podia me dar uma trégua. Eu podia amarelar, pedir água. Mas no dia seguinte, lá estava eu novamente, caminhando. Perseverando.

Não, eu não sou heroína olímpica, apesar de ter sido atleta. Não, eu não quero dar lição de moral, falando que, se eu me superei, se superei as dores da bolha gigante (que se juntou a mais uma no outro pé) e do tornozelo torcido (faz anos, mas de vez em quando ele ainda chia), todos podem fazê-lo. E não, eu não sei aonde quero chegar com este post. Talvez o que eu queira contar são algumas coisinhas que estou aprendendo (ou reaprendendo) sobre a vida de "atleta", com estas caminhadas:

1. É preciso coragem para caminhar no frio e na chuva (sim, eu tomei chuva caminhando). Mas, principalmente, à meia-noite e meia. Em São Paulo.

2. Fazer caminhada sete dias por semana é mais fácil para mim do que fazer apenas três vezes por semana. Esses dias de descanso desanimam e me dão preguiça.

3. Quanto mais ocupado o seu dia, mais coisas você se torna capaz de fazer.

4. Caminhar em britinhas, grama ou terra cansam mais mas são menos cruéis nas articulações do que asfalto e concreto.

5. Band-aids especiais para bolhas realmente funcionam. Ainda bem que comprei pacotes a mais para guardar para mim.

6. Variar o caminho realmente deixa tudo mais divertido.

E, óbvio, tenho me debatido com certas questões muito universais e maduras também:

1. Por que raios eu não moro na Holanda, onde tudo é plano?

2. Compro ou não compro uma pochetinha para eu colocar a garrafa d'água ao invés de carregá-la na mão?

 

 

Alguém me perguntou uma vez, o que eu sentia nos treinos quando era nadadora. Respondo agora:

-- A mesma coisa que eu sinto quando caminho. Há dias em que tenho raiva, há dias em que me sinto ótima e bato meus próprios recordes (eu marco quantos passos eu dou), há dias em que já dou o primeiro passo e-x-a-u-s-t-a e dias em que simplesmente eu checo o relógio a cada cinco minutos porque eu não vejo a hora do suplício terminar.

Mas, mesmo assim, no outro dia, lá estou eu de novo, faça calor ou faça frio, seja dia ou seja noite, caminhando. Perseverando. E, quiçá, me sentindo corajosa por não ter desistido.

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Minha trilha sonora (compartilhar musiquinhas é coisa de corredor, mas vamos lá):

. Restless -- Alison Krauss
. When I'm Up (I Can't Get Down) -- Great Big Sea
. Tropa de Elite -- Tijuana (para dar aquele impulso extra)
. How Bizarre -- OMC
. Wave Over Wave -- Great Big Sea
. Galway Girl -- Steve Earle
. Podcasts em inglês (que me fazem caminhar mais devagar)

Postado por Raquel Hoshino | 7 comentários

Perfil

Raquel Hoshino é mezzo japa, mezzo italiana. Jornalista, ariana e chefe escoteira, está atrás de seu "gene zen". Aquele pedacinho oriental perdido, suficiente para transformá-la numa pessoa iluminada e calma o suficiente para comer uma tigelinha de arroz, grão por grão, enquanto admira a paisagem de suas jornadas.
 

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