Ainda não assisti ao Batman novo, apesar de um de meus trabalhos ser a produção e edição de um programa de cinema para internet (assista lá). Mas estou viciada em seus sites, em seu marketing viral (coisa que piorou agora às vésperas da estréia). Para quem não sabe, o novo filme do Homem-Morcego não tem um mas, sim, vários sites oficiais. Tem o site do filme, o do Coringa, o site da Gotham Cable News (meu canal de TV favorito), o da polícia, o da campanha de Harvey Dent para District Attorney... dá para se divertir muito. Ainda mais se você for americano (se pedir uma pizza da Domino's, você consegue acessar um vídeo exclusivo).
Anyway, uma das primeiras coisas que o pessoal da Warner colocou em um desses sites foi um pedaço da cena do roubo a banco orquestrado pelo Coringa. E, ao fundo, no meio do prédio em chamas, das sombras e da fumaça, aquela risada inebriante, psicótica, sinistra, aterrorizante. Fiquei arrepiada. Estou arrepiada.
Eu, Heath Ledger e o Coringa somos arianos. Também o foi Charles Chaplin, outro palhaço (16 de abril é o dia dos grandes clowns do zodíaco -- diz o livro A Linguagem Secreta dos Aniversários). Peguemos o Coringa e Chaplin (que o tempo todo é confundido com seu personagem, o cômico vagabundo). Duas forças criativas, destruidoras do status quo. Chaplin derrubou o "sistema", interpretando um operário de fábrica com LER (lesão por esforço repetitivo); desmontou Hitler, dançando com um globo. Coringa traz o caos a Gotham, a anarquia, a destruição, a aniquilação. Você se lembra que era esse o objetivo de Ra's Al Ghul (e sua Liga das Sombras) no Batman Begins?
Falo tudo isso para conversar sobre criatividade. Como qualquer dom ou qualquer ferramenta (veja o célebre caso do avião e da decepção de Santos Dumont), a criatividade pode ser usada para o bem ou para o mal. Para construir ou destruir. Uma pessoa que conheço bem odeia arianos. Diz que somos pessoas do Mal. Não creio nisso. Temos representantes bons e ruins, como todos os outros signos. Agora, o que eu não posso negar é que, para ser criativo, é preciso destruir, quebrar e, dos cacos, da devastação, construir. É mais ou menos, como a flor que nasce no deserto. Ou a floresta que repovoa uma área queimada. Ou ainda aquele ditado "é preciso quebrar ovos para se fazer um omelete".
Dê-me uma regra e te dou mil formas de burlá-la. Dê-me a dsciplina e o auto-controle (Bruce/Batman) e te dou a sombra, o caos, o surto, a loucura, a falta de controle (Coringa). O Batman precisa do Coringa tanto quanto o Coringa precisa do Batman. E todos nós temos os dois dentro de si. (Leia as análises do meu amigo João Acuio, o astrólogo, aqui).
Dê-me os dois, bote um holofote na sombra (na minha, na sua, na de todos) e terá algo parecido com Chaplin (um palhaço disciplinado, atento, perspicaz, inteligente). Terá Heath Ledger, que abraçou o seu lado negro para que, com disciplina, estudo (voz, maquiagem, figurino) e muito trabalho pesado, se transformasse no personagem piadista, niilista. Quando nos apropriamos de nossos medos, de nosso pânico, quando aceitamos nossos piores desejos, nossos tabus, quando abraçamos nosso nosso lado negro, o transformamos. Conseguimos o preto no branco, o cinza e todas as outras cores. Fazemos um delicioso omelete (e mais um bolo, três tortas e um Angel Lush -- o bolo aí de cima). Conseguimos conquistar Oz e voltar para casa. E ser uma pessoa melhor.
E você, já olhou para o seu lado negro hoje?