Eu nem curto política, mas fiquei muito feliz com a vitória do Barack Obama nos EUA por ser um presidente negro numa sociedade que já foi tão preconceituosa e racista. Na minha opinião o mundo está mudando de verdade. Lula não tem dedo e nem faculdade e é presidente do nosso país. Eu não entendo muito bem de política, mas como eleitor não tenho muitas reclamações quanto a política do nosso presidente. E acho que no geral, o povo tem muito medo de que ele saia do cargo. Fora isso temos o primeiro ministro do Japão, Taro Aso, que é otaku assumido e até fez um mega discurso em Akihabara elogiando as pessoas que "vivem felizes seguindo aquilo que gostam". Eu, particularmente, achei muito legal o Aso san (como é chamado por aqui) ser fã de quadrinhos, desenhos e videogames. Acho que ele quebra o estigma que a sociedade japonesa tem em cima desses fãs. Alguns anos atrás o Aso san era um dos homens citados em um projeto que havia feito para a pós-graduação. Falava-se muito na integração dos nikkeis (brasileiros descendentes de japoneses) com a sociedade japonesa em geral. E o Aso san via na cultura pop uma maneira de aproximar as pessoas da cultura japonesa. E era exatamente isso que eu pensava. Quando comecei a estudar cultura e literatura japonesa foi primeiro na cultura pop que nasceu o meu interesse. Jogando videogames e tentando ler mangás com dicionário de japonês-português, mas sem entender uma palavra.
Existem mais de 300 mil brasileiros no Japão e uma boa parte deles ainda têm dificuldades de se entenderem com os japoneses. Tanto que surgiram diversos meios de amenizar o impacto entre as duas culturas. Nas regiões onde os brasileiros co-existem com os japoneses, supermercados, lojas, bares e baladas foram "adaptados" para os gostos brasileiros. Até mesmo a comida foi importada especialmente para os brazucas que não aturam um Donburi. Sim, a sociedade japonesa separa e cataloga as raças. Quem é Nikkei por aqui sabe que na verdade é brasileiro. Mas eu tenho que dizer que os japoneses estão muito mais adaptados aos estrangeiros hoje em dia do que há dez anos. E grandes mudanças estão acontecendo enquanto seguimos com as nossas vidas. E está acontecendo com a sociedade brasileira aqui, o mesmo que aconteceu com os descendentes do Kasato Maru há cem anos: estamos nos adaptando. Sim, está acontecendo devagar, mas está acontecendo. Os descendentes de brasileiros no Japão estão aprendendo a falar japonês, colocando seus filhos em escolas japonesas e vislumbrando um futuro na Terra dos Sol Nascente mesmo. A criançada já não está formando a próxima geração de funcionários das fábricas e muitos estão procurando seu lugar no mercado de trabalho concorrendo com outros japoneses. Ainda é uma minoria que faz isso, mas já começaram a fazer. O golpe final dessa adaptação é o impedimento de outras gerações de descendentes venham ao arquipélago. Se não me engano, a partir da terceira geração já não é mais possível tirar visto para trabalhar nas fábricas. O modo como os consulados vêem os estrangeiros também está com data para mudar: 2010. Daqui a dois anos vão rolar diversas mudanças nas leis de imigração, permitindo que os estrangeiros que se interessam pelo Japão entrem mais facilmente no país, isso visa prevenir a recessão futura que terá como grande vilão a baixa taxa de natalidade e o grande número de idosos que forçarão um número menor de jovens japoneses a trabalharem para pagar os impostos.
Enquanto isso no Brasil rola o samba!
E você que está aqui há mais de 20 anos e desde então nunca foi visitar o Brasil, talvez esteja na hora de faze-lo também. A idéia de que o Brasil é uma merda está bem por fora dos parâmetros atuais da economia. Não me canso de ouvir os japoneses dizerem que somos BRIC (um conjunto de países emergentes formado por Brasil, Rússia, Índia e China que vai ter economia forte em 40 anos superando os países de primeiro mundo como EUA e Japão) e que precisam encontrar uma maneira de criarem laços econômicos com a gente antes que seja tarde demais. O Brasil com a maior floresta do mundo é um berço natural que vai suprir uma boa parte do planeta.
Tenho aqui dois amigos japoneses que fizeram o Job Hunting (é a procura de emprego que os japoneses têm que fazer para entrar numa grande empresa. A seleção é dura, mas o emprego é vitalício e com um excelente salário!). Estes dois foram escolhidos porque resolveram aprender português ao invés de idiomas mais comuns como o inglês ou espanhol. A empresa que os escolheu, uma das maiores importadoras de produtos do país, quer que eles estejam preparados para viajar ao Brasil em dois ou três anos. Lá, eles irão pechinchar e comprar produtos para o consumo do povo japonês. Bom, não preciso dizer que uma boa parte do que é consumido no Japão é importado de algum lugar. Aliás, eu acho que com tantos brasileiros no Japão, eu fico espantado que hajam poucas pessoas que importem produtos não só para os brasileiros, mas para os japoneses também. Um dos maiores exemplos que tenho por aqui são as sandálias Melissa que no Japão são vendidas por 15 mil ienes e no Brasil custam 60 reais (menos de 3 mil ienes!). As sandálias viraram item fashion entre as mulheres japonesas que cada vez mais o consomem vorazmente. Eu não pesquisei diretamente, mas fico na dúvida se o cara que trouxe as sandálias pra cá e anda jogando nas principais lojas de moda de Tóquio e Osaka é brasileiro mesmo. Muito provavelmente foi a atuação de uma dessas empresas de importação japonesas que fez isso acontecer. Seria muito melhor se nós aprendêssemos com os japoneses a encontrar maneiras de ganhar dinheiro usando a tão falada integração entre brasileiros e japoneses. Bom, e eu estou aqui no Japão com uma missão: arranjar um emprego e mudar o status de permanência do meu visto. Sou brasileiro, não-descendente, mas adoro este país e gostaria de ficar por aqui até aprender a falar japonês direitinho. Sei que não é fácil, mas o meu Daruma já está com um olho pintado! O pedido já foi feito, então tenho que me esforçar por aqui.
Postado por Renato Siqueira | 6 comentários
Comentários
Ana Raquel @ 7 Nov, 2008 : 12:50
"[...] Aso san via na cultura pop uma maneira de aproximar as pessoas da cultura japonesa. E era exatamente isso que eu pensava. Quando comecei a estudar cultura e literatura japonesa foi primeiro na cultura pop que nasceu o meu interesse. Jogando videogames e tentando ler mangás com dicionário de japonês-português e sem entender uma palavra[...]". Renato, achei super interessante a sua colocação sobre essa globalização das culturas. É através de elementos primeiros, como animes, mangás e video games que se gera um interesse em buscar mais informações sobre a cultura japonesa. No início, tudo gira em torno dos animes e de seus personagens, posteriormente, a busca vai mais além: o objetivo passa ser o de conhecer a língua e um pouco dos costumes, como danças, música, alimentação, folclore, etc.
No mais, boa sorte aí no Japão! \o/
Nicky @ 7 Nov, 2008 : 15:25
Seria bom se todas as pessoas fossem como você, que apesar de começarem a se interessar pelo Japão através da cultura POP, passam a ter interesse na cultura tradicional, na literatura, no modo de vida e na língua.
Não é o que acontece em geral, temos muitas pessoas que tem uma imagem totalmente deturpada do Japão por se basearem unicamente nos itens da cultura POP, como se os animes explicassem tudo sobre o país. Acho isso meio benéfico, o Japão é muito mais do que personagens cabeçudos de olhos grandes e cabelos coloridos.
Renato Siqueira @ 8 Nov, 2008 : 05:48
Concordo com a opinião de vocês dois! Muito pertinentes.
japa pobre @ 9 Nov, 2008 : 17:31
legal
suzete aparecida reis tanoue @ 28 Jun, 2009 : 09:45
adorei a materia, e enquanto lia pensei que vc fosse descendente, e fiquei muito surpresa quando quase no final da materia descobri que nem é descendente; mas parabens pela materia e pela coragem o japão e o brasil deveriam realmente se integrar mas e ai quem sabe os povos nao descobririam que cada um tem seu encanto eu ja estive ai e adorei realmente conheçer o japao foi uma experiencia maravilhosa, embora voltar ao brasil dê um alivio muito grande, bjos suzete.
Japa @ 9 Jul, 2009 : 19:57
Eu posso ter nascido no brasil e falar portugues mas jamais me considerei brasileira p falar a verdd odeio o brasil pq eu sei q sou japanesaa
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Perfil
Renato Siqueira, 29 anos. Começou a se interessar por cultura japonesa quando tinha 13 anos e nunca mais parou. Está terminando o curso de Letras Português e Japonês na USP. Foi para o Japão em 2007 e pretende voltar logo que puder! Curte anime, mangá, games, cinema, J-pop, novelas, tokusatsu, comida e tecnologia japonesas - tudo que faz o Japão ser tão interessante e que chega até nós.