21 Ago, 2008
Pipoca com shoyu
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No cardápio, filmes japoneses e ocidentais mostram diferentes recortes da cultura nipônica
Japoneses e brasileiros comemoraram 100 anos de união, mas será que você entende os hábitos e o comportamento deste povo milenar? Bem, se for pelo volume de filmes sobre o assunto você já deve ser um expert. Durante muitos anos, diretores de vários países vêm tentando mostrar em suas produções um pouco do espírito japonês. E eu deixo aqui a lista dos recomendados. Quando for assistí-los, não se esqueça de reparar nos detalhes!
Uma das melhores maneiras de se entender a cultura japonesa é compará-la com outra e é por esse olhar estrangeiro que conseguimos ressaltar sua singularidade. Esse é grande barato de "Tokyo-ga" (1985), documentário sobre a vida do cineasta japonês Yasujiro Ozu feito pelo alemão Wim Wenders que percorreu o Japão com uma câmera na mão registrando tudo e tentando captar a inspiração e a maneira como Ozu fez seus filmes. A genialidade da produção fica por conta de um país visto pelos olhos de um estrangeiro admirador fervoroso da estética japonesa.
Já "Sol Nascente" (Rising Sun, 1993), traduz a relação básica de importância e respeito que os japoneses guardam para seus superiores.
Quando o detetive Webster (Wesley Snipes) é chamado para desvendar um assassinato numa empresa japonesa recebe a ajuda de um ex-capitão, John (Sean Connery), expert no comportamento japonês. Enquanto ensina sobre os japoneses, John força Webster a chamá-lo de Senpai, palavra japonesa que significa “superior”, enquanto refere-se ao detetive como Kouhai (“iniciante”).
As regras sociais super definidas e o respeito ao individualismo aparecem em "Encontros e Desencontros" (Lost In Translation, 2003) que narra a vida de Bob Harris (Bill Murray), um ator que vai ao Japão para filmar comerciais, e a recém-casada Charlotte (Scarlett Johansson), que acompanha o marido fotógrafo. Ambos se perguntam o que estão fazendo com suas vidas e a atmosfera quase “claustrofóbica” de Tóquio é a parábola usada para explicar a confusão dos dois personagens.
Mas para ter um panorama completo, nada como os filmes dos cineastas japoneses. Inspirado em um mangá, "Sakuran" (2007), mostra o universo das antigas cortesãs japonesas, mas com um visual mais moderno. A película conta a história de uma a jovem rebelde que é vendida para um prostíbulo e se torna oiran, cortesã de alta classe que chefia a casa. O andar sedutor da oiran pelas ruas vestida em seu quimono mais caro e usando Takaguetá (sandália de mandeira com 30 cm de altura) tem o objetivo de atrair maravilhados outros clientes para sua casa. Cabe ao espectador prestar atenção às minúcias para entender o todo. E é assim mesmo que o povo japonês percebe o mundo.
Agora se para você o beijo e o abraço são as maiores demonstrações de amor e carinho que pode existir, saiba que no Japão, isto é reservado apenas para a intimidade, enquanto na vida social tudo é velado. "Ima Ai Ni Yukimasu" traduzido como "Agora vou encontrar você", de 2004 faz um retrato do comportamento romântico oriental, em que os sentimentos são revelados em pequenos gestos. No filme, o pai Takumi e o filho Yuji choram a morte de Mio, a mãe. Só que antes de morrer, Mio avisa ao filho que voltará durante o período das chuvas para visitar a família pela última vez. E ela retorna como num passe de mágica mas toda a sua memória foi apagada. Cabe ao marido reconquistá-la contando como se apaixonaram da primeira vez. É pura poesia visual!
A grande maioria dos japoneses se diz budista ou xintoísta e através disso é possível aprender muito sobre o comportamento nipônico bebendo na fonte das divindades e forças da natureza. Na animação, "A Viagem de Chihiro" (Sen to Chihiro no Kamikakushi, 2001) do diretor Hayao Miyazaki, Chihiro e seus pais atravessam um portal e chegam ao mundo dos deuses. Desrespeitando o lugar, os pais são transformados em porcos e, para salvá-los, ela tem que trabalhar na casa de banho dos deuses para se redimir e provar sua existência. A prova de que para os japoneses tudo deve ser conquistado com seu próprio esforço.
Postado por Renato Siqueira | 1 comentário
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Perfil
Renato Siqueira, 29 anos. Começou a se interessar por cultura japonesa quando tinha 13 anos e nunca mais parou. Está terminando o curso de Letras Português e Japonês na USP. Foi para o Japão em 2007 e pretende voltar logo que puder! Curte anime, mangá, games, cinema, J-pop, novelas, tokusatsu, comida e tecnologia japonesas - tudo que faz o Japão ser tão interessante e que chega até nós.
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