Em janeiro do ano passado eu fiz a minha primeira viagem ao Japão e não esqueci da maioria das coisas que havia lido sobre a cultura e os costumes japoneses. Uma amiga japonesa que estava no Brasil aprendendo português me disse uma vez: "O Japão é o país mais moderno do mundo. Na vanguarda do futuro, é um país que gosta de experimentar primeiro as novas tecnologias, aprimorá-las e exportá-las novamente". E logo que eu coloquei os meus pés em Tóquio, a maior cidade do Japão, eu me dei conta disso. Embarcando pela primeira vez nos trens japoneses, usando as privadas cheias de botões e vendo as máquinas de comida e bebida por todos os lugares eu fiquei espantado. Era tanta tecnologia que como uma esponja, o meu cérebro ficou tentando absorver e raciocinar tudo aquilo, enquanto tentava imaginar como isso seria aplicado no Brasil. É lógico que, como fã de mangás, eu não deixei de tentar associá-los ao moderno corre-corre da cidade japonesa.
Enquanto estava no Brasil eu sempre ouvia falar de que os japoneses liam revistas de mangá enquanto viajavam dentro dos trens indo e voltando do trabalho, mas quando eu estava em Tóquio vi isso acontecer apenas duas vezes. Em compensação as pessoas passavam o tempo inteiro jogando videogames portáteis, ouvindo música MP3, assistindo televisão via internet e lendo as notícias no telefone celular.
Sempre que perguntava a um morador de Tóquio sobre o que acontecera com os mangás dentro dos trens, eu escutava a mesma resposta: "Agora as pessoas lêem os títulos em casa ou fazem o download do mangá na internet no site de algumas das editoras. Pela praticidade, hoje em dia os japoneses preferem os aparelhos leves e portáteis porque agregam tudo em um só lugar".
Depois de muito tempo ainda estava pensando sobre isso. No Japão existem locadoras enormes, lojas de cds de música e jogos de videogame, livrarias gigantescas, e mesmo assim, convivem pacificamente com a chamada "democratização da informação" tão discutida atualmente. Esse termo foi cunhado nesta época de globalização e da chegada da internet. A evolução da rede mundial de computadores permitiu a troca livre de informações, permitindo um acesso maior as culturas de diversos países. A facilidade que existe em se encontrar e compartilhar informações só aumenta com a evolução dos computadores. Mas, ao contrário do que se parece, o Japão do futuro está aos poucos adaptando-se a esta nova realidade. Basta ver que uma boa parte de seus conteúdos de comunicação já são encontrados na internet em forma de lojas virtuais de música, jornais, revistas, games e até programas de tv e filmes. Os aparelhos de videogame de nova geração como o Playstation 3 e o Nintendo Wii já vêm com redes de internet integradas para que o jogador possa fazer o download de seus jogos preferidos. A Apple, a famosa empresa de Steve Jobs, anunciou que seu Apple TV, um aparelho conectado ao computador e que permite aos usuários assistirem a filmes diretamente pela internet, está colocando a disposição um serviço de locação de filmes. Você usa o seu cartão de crédito internacional, aluga um filme pela internet e o assiste com uma boa qualidade em sua tv de plasma que provavelmente já tem um disco rígido (HD) embutido para armazenar o filme.
Eu acredito que estamos vendo gradativamente o final da mídia física (DVD, cd, VHS, jornais, revistas, etc). No futuro, tudo o que conhecemos em relação a informação virá através de um computador conectado a internet. Mas enquanto o Japão se prepara para esta mudança, o que acontece no Brasil?
Renato Siqueira
Balcão das Lojas Americanas: DVDs originais a R$12,99
No finalzinho da década de 1990, a internet começou a fazer parte da vida dos brasileiros e eles se viram com um acesso quase infinito a informações do mundo inteiro. Logo, isso passou a afetar inicialmente o mercado editorial nacional que não conseguia mais acompanhar o ritmo frenético das informações digitais. Assim, jornais e revistas mergulharam em uma grande crise e tiveram que se adaptar a um novo patamar de vendas bem menor do que o existia antes, isso ao mesmo tempo em que criaram seus veículos de comunicação digitais para fazer dinheiro também na internet. No Brasil, quem sofre mais com isso hoje são as empresas de cinema e de música. O aumento na velocidade da internet permite agora que o internauta baixe com mais facilidade conteúdos que antigamente eram mais difíceis de achar.
O dono de uma grande empresa de dvd me disse informalmente: "As empresas produtoras de vídeo estão agindo como se houvessem descoberto uma doença incurável, enquanto procuram a solução, vão morrendo vagarosamente". É isso que se observa quando resolvemos visitar as lojas e locadoras do país. Geralmente, você encontra uma enorme promoção de DVDs e cds e se dá conta de que aquele espaço para filmes e música que antes era imenso dentro das lojas encolheu de forma assustadora. As empresas de filmes que antes colocavam no mercado de dvds em média 11 lançamentos por mês, hoje colocam apenas dois ou três. Muitas locadoras estão fechando suas portas, por causa da internet que permitiu que todas as pessoas tivessem acesso ao mesmo tipo de produto, incluindo os piratas.
A democratização da informação diz que não há nada de errado em passar informação para outras pessoas, a informação é livre! É assim que ficamos conhecendo ou apreciando as novidades. E certamente foi assim que o Japão passou a exportar cultura pop e, acredito eu, que mais no Brasil do que em outros países sofremos essa influência oriental diretamente.
Mesmo com toda essa liberdade de informação, o Japão ainda mantêm intactas todas as suas locadoras, lojas de cds, livrarias e etc. Isso acontece porque essa mídia é acessível para todo cidadão japonês. Quem trabalha por lá não tem problema algum em adquirir filmes originais, livros, games e músicas de seus artistas preferidos. Agora no Brasil isso não acontece. Um trabalhador com um salário mínimo não consegue pagar suas contas e comprar um box de dvd de 130 reais a não ser que parcele no cartão em muitas vezes. Assim, a pirataria viu na falta de emprego, de dinheiro e nos preços exorbitantes, a oportunidade de transformar a informação livre da internet em produto acessível as massas. E burlando as leis de direitos autorais a extensa pirataria criou a crise no mercado de vídeo.
Renato Siqueira
DVDs originais de Dragon Ball Z à venda na locadora Tsutaya
Com uma qualidade inferior, a pirataria cobra o preço que estes produtos originais deveriam ter nas lojas brasileiras, mas que, por diversos fatores, não tem. Um dvd original, na minha opinião, não deveria representar mais do que 5% do salário de um empregado que ganha um salário mínimo (ou seja, um dvd não deveria custar mais do que 15 ou 20 reais), que é exatamente o que acontece no Japão. De qualquer maneira, a indústria brasileira ainda tem um longo caminho a percorrer para tentar se adaptar a essa nova geração. É importante dizer que já existem algumas empresas tomando iniciativas bacanas, como tornar disponível o conteúdo da tv na internet, fornecer músicas em lojas virtuais e andam até testando a possibiliade de download de filmes, como é o caso da Saraiva .
Vamos ser sinceros! Quem aqui já não fez download de algum arquivo da internet? Seja filme, música, games ou qualquer outra coisa? Eu mesmo estou sempre fazendo o download de novelas japonesas para assistir em casa. Baixo o arquivo, coloco no I-pod e o conecto a minha tv. Assim, eu assisto o que anda passando no Japão um dia depois de ter sido exibido por lá. Por exemplo, no blog Furikake, a Gabi revelou que assistiu com a Verô em uma semana 65 episódios do anime Naruto. Até mesmo as duas já assistiram mais Naruto do que os 52 episódios que foram oficialmente licenciados no país e exibidos repetidamente por quase dois anos na tv a cabo e no SBT. Só para lembrar, Naruto possui mais ou menos 262 episódios exibidos no Japão e é impossível não dizer que uma boa parte dos fãs brasileiros também já os assistiram. É só acessar um site de compartilhamento de vídeos, como o Youtube, para ter acesso aos mais recentes episódios das aventuras do ninja de roupas espalhafatosas e cabelos espetados. Alguém os colocou lá e, se estão disponíveis não é crime assisti-los.
Lógico que nós não temos a mínima intenção de montar uma loja de produções japonesas ou qualquer coisa do gênero. Esses exemplos só servem para dizer que esta parte de assistir o que tem na internet não tem nada de errado. Só vira pirataria mesmo, se você usar os direitos da obra sem a licença dos criadores. E por falar nisso, eu descobri que um site curioso, chamado Creative Commons, tem a ocupação de, através de licenças padronizadas, defender o direito de utilização da informação via internet. A Finlândia, e quem diria, o Japão foram os primeiros países a entrar de cabeça neste projeto, enquanto o Brasil, se não me engano, foi o quinto ou sexto.
Eu acredito que a própria internet vai acabar com a pirataria, à medida em que todos tiverem acesso às mesmas informações e não precisarem mais gastar dinheiro comprando filmes e músicas nas barraquinhas de camelô.
Só para terminar, eu fiquei feliz quando voltei ao Brasil e descobri que o nosso país quer ser um pouquinho como o Japão. Só no ano passado foi aprovado o projeto de criação do trem-bala que vai ligar São Paulo e Rio de Janeiro, a tv virou digital e a internet banda larga nos celulares logo vai permitir uma interação com a tv e ligações em vídeoconferência (tecnologia 3G). Fora isso, os metrôs de São Paulo ficaram mais moderninhos com telas de plasma passando propaganda, e logo será possível fazer ligações dentro dos túneis do metrô, igual a Tóquio. Tudo isso para deixar a vida das pessoas mais prática.