1 Fev, 2008
Cool Japan: O Japão legal que o mundo conhece
Renato Siqueira |
|
Hoje em dia uma boa parte dos jovens pelo mundo afora respira cultura pop japonesa vinda diretamente dos mangás, animes, cinema e música. E no Brasil não é muito diferente. Todos os anos, milhares de jovens vão a eventos de animação japonesa, compram milhares de revistinhas, bonecos e roupas estampadas com seus personagens japoneses favoritos.
É importante dizer que antes do boom da cultura pop japonesa", que aconteceu em meados de 2001, o Brasil já tinha toda essa influência vinda de lá. Sabe como? Através da nossa imensa colônia japonesa, onde os japoneses traziam para o Brasil mangás e CDs. Eu me lembro que, quando comecei a me interessar por mangás, precisava ir até a Liberdade e comprar estes quadrinhos em japonês nas livrarias. A mesma coisa acontecia com os animes, que eram alugados nas locadoras japonesas, e sem legendas. E era por isso que conhecer esta cultura se resumia apenas a um pequeno grupo de pessoas entusiasmadas.
Alguns anos depois, com o intuito de popularizar os animes, surgiam os fansubber: como o próprio nome diz, fãs que legendavam os desenhos para que outras pessoas tivessem acesso ao entendimento das histórias. Para comprar uma fita VHS com legendas, você precisava fazer um pedido pela internet, depositar o dinheiro na conta de uma pessoa que você não conhecia e esperar de bom grado que ela lhe enviasse os animes. Em 1996, um grupo chamado ABRADEMI (Associação Brasileira dos Desenhistas de Mangás e Ilustrações) criou o primeiro evento de anime, chamado Mangacon. Esse com certeza foi o evento pioneiro daqueles que conhecemos hoje e que reúnem mais de 30 mil fãs no Brasil.
Mas eu acho que o boom da cultura pop japonesa no mundo aconteceu pela confluência de diversos fatores. O primeiro deles é a globalização, que aproximou os povos de diversos países; a outra é o aumento da velocidade de informação na internet e o acesso a novas mídias. Isso sem falar na necessidade de se ter acesso ao aprendizado, a novas histórias e a uma nova cultura. Nesse sentido, a cultura japonesa caiu como uma luva. É uma cultura muito diferente e ao mesmo tempo interessantíssima.
Hoje em dia é muito fácil ter acesso a informações vindas do Japão. Os mesmos caras que legendavam animes nos fansubber se tornaram experts em computador e internet. Quando uma nova série, filme, novela ou música aparece no Japão, um fã logo trata de liberar este conteúdo na internet, que acaba na mão de outros fãs que tratam de legendar o conteúdo para as mais diversas línguas, inclusive o português. E foi assim que a cultura pop japonesa ganhou toda essa popularidade.
Em 2003, o primeiro ministro Junichiro Koizumi disse para a imprensa mundial que o Japão não estava mais apenas exportando tecnologia, mas que um novo produto tão importante quanto este havia ganhado notoriedade no planeta: a cultura pop. O Japão estava definitivamente lucrando milhões de ienes através dos desenhos animados japoneses (animes), histórias em quadrinhos (mangá), cinema e música pop japonesa (J-pop), etc. Algo que nunca havia acontecido com o mercado japonês, cujos produtos culturais populares sempre tiveram como público consumidor os próprios japoneses. Nunca havia se pensado que este tipo de cultura poderia chegar a outros países e influenciar outras culturas.
Foi pensando nas palavras de Koizumi que o especialista em política Tamotsu Aoki cunhou a expressão "Cool Japan" (Japão Legal), ou seja, o poder do Japão de influenciar outros países através da cultura pop.
Por exemplo...
Japão Legal é aquele que faz um grupo de jovens fãs de Fortaleza, no Ceará, se unirem para a criar um evento de cultura pop japonesa. O SANA já existe há mais de 7 anos e pode ser considerado um dos maiores do Brasil, com um público que supera os 30 mil visitantes. E o mais interessante é que no Estado do Ceará a comunidade nikkei é relativamente pequena em relação aos outros Estados do Sul do país. Por isso, o grupo que realiza o SANA é formado especialmente por 非日系 (HINIKKEI são os "não-descendentes"). Estes jovens resolveram se unir e formar uma Fundação chamada FCNB (Fundação Cultural Nipônica Brasileira), sem fins lucrativos, para que assim pudessem realizar um evento com apoio da prefeitura e dos empresários da região.
Nos dias 11, 12 e 13 de julho acontece o SANA 8. Esta oitava edição do evento terá a participação de três cantores internacionais: Nobuo Yamada, Yumi Matsuzawa e o brasileiro Ricardo Cruz. Os dois primeiros são japoneses e são os cantores das músicas da série "Cavaleiros do Zodíaco", enquanto o Ricardo Cruz é um dos meus grandes amigos e cantor de uma banda japonesa de anime songs chamada Jam Project. Este ano a banda fará uma turnê mundial chamada "No Border", que deve fazer uma parada no Brasil no mês de julho.
Dicionário:
非日系(HINIKKEI): Esta palavra é usada para designar as pessoas que não são japoneses ou que não são descendentes de japoneses. Não é como a palavra 外人(gaijin) que vem de 外国人 (Gaikokujin) que significa estrangeiro, e dependendo de como é usada pode ser uma palavra pejorativa.
Postado por Renato Siqueira | 7 comentários
|
Perfil
Renato Siqueira, 29 anos. Começou a se interessar por cultura japonesa quando tinha 13 anos e nunca mais parou. Está terminando o curso de Letras Português e Japonês na USP. Foi para o Japão em 2007 e pretende voltar logo que puder! Curte anime, mangá, games, cinema, J-pop, novelas, tokusatsu, comida e tecnologia japonesas - tudo que faz o Japão ser tão interessante e que chega até nós.
Arquivos
- Ago, 2009
- Nov, 2008
- Out, 2008
- Ago, 2008
- Jul, 2008
- Jun, 2008
- Mai, 2008
- Abr, 2008
- Mar, 2008
- Fev, 2008
|