2 Jun, 2008
Livros da Terra do Sol Nascente
Ale Sakai |
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A relação do povo japonês com a literatura sempre foi muito estreita. E com certeza, muita da bagagem cultural trazida pelos imigrantes que vieram ao Brasil veio na forma de livros.
Eu confesso que mal sei reconhecer o meu nome escrito em japonês, quanto mais ler uma frase inteira. Acredito que seja mais fácil tentar decifrar um hieróglifo egípcio. Mas a maioria dos imigrantes era alfabetizada em sua língua natal e a leitura era uma verdadeira necessidade para eles. Tanto que em 1916 os primeiros jornais impressos no país em língua japonesa já circulavam por São Paulo. E alguns anos depois surgiriam as primeiras livrarias na cidade também.
Tudo ia bem até que chegou 2ª Guerra Mundial. Nessa época o dia-a-dia do imigrante japonês por terras brasileiras sofreu um verdadeiro ataque, inclusive o lado cultural. Os jornais foram impedidos de circular, as livrarias foram fechadas e tiveram todas suas mercadorias apreendidas, e era até mesmo vetado conversar em japonês em locais públicos. Os livros japoneses, por sinal, eram artigos proibidos até mesmo dentro de casa. Não são raros os relatos de pessoas que tiveram que enterrar seus livros para que eles não fossem tomados pela polícia.
Mas quando os mares do Pacífico voltaram a fazer jus ao seu nome, os japoneses desse lado do mundo tiveram que correr atrás do tempo perdido. Novos jornais em língua japonesa foram criados, da mesma forma que novas livrarias também surgiam.
Fundada em 1949 por Yoshiro Fujita com a ajuda de 2 sócios, a Livraria Sol, ou Tayodo como é conhecida entre os japoneses mais velhos, é praticamente um símbolo na história da comunidade japonesa aqui no Brasil. Imagine que são quase 6 décadas de vida, algo que é raro até mesmo entre livrarias convencionais, e o que dizer de uma livraria especializada na língua japonesa.
Só pra ter uma idéia, no auge do mercado editorial de língua japonesa no país que foi entre a década de 50 e 60, só a Sol importava cerca de 15 toneladas de livros por mês, que ela distribuia através de 5 pontos de venda que ela tinha na cidade de São Paulo.
E pensar que tudo isso começou quando o Sr. Fujita perdeu seu emprego numa grande importadora na época da guerra e acabou tendo que se virar vendendo bugigangas de porta em porta. Uma situação triste mas que mudou de rumo quando recebeu alguns livros japoneses usados que venderam como água no deserto. Foi nessa hora que uma lâmpadinha surgiu em cima da cabeça do Sr. Fujita, e o projeto da livraria Sol começava a nascer.
Mas nem tudo foram flores no início. Temos que lembrar que no Japão pós-guerra a situação ainda não era das melhores e a qualidade dos primeiros livros importados pela Sol eram de péssima qualidade, o que prejudicava as vendas por aqui. Tanto que o jeito foi mandar comprar papel nos Estados Unidos e mandar pra lá para que os livros tivessem uma qualidade melhor.
Hoje a história é outra, sua única loja é a livraria localizada na Praça da Liberdade, bem na saída do metrô. Mudou também quem a frequenta. Além dos japoneses e descendentes, muitos jovens fãs de mangás vão atrás de novidades assim como muitas senhoras também dão um pulinho na livraria em busca de revistas e livros de artesanato, principalmente de tricot e crochê. O que não mudou muito foram os funcionários, alguns deles têm quase 30 anos de casa.
Se você não conhece a Livraria Sol e quiser dar um pulinho por lá, anote o endereço: Praça da Liberdade, 153. E ela fica aberta de segunda a domingo.
Postado por Alexandre Sakai | 8 comentários
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Perfil
Alexandre Sakai é publicitário. Paulistano, nascido no bairro do Ipiranga, é sansei, neto de japoneses. Adora fuçar livros, revistas e a internet atrás de informações e novidades. Atualmente tem coletado histórias curiosas da comunidade japonesa no Brasil para escrever um livro.
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