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Realidade, 1/12/1973

Uma fazenda diferente que vai criar peixes

DA REDAÇÃO

É a primeira a ser montada no Brasil. E terá tudo exatamente como os japoneses imaginaram, há trinta anos

Modernas fazendas, para criar e engordar peixes em vez de bois, começam a ser planejadas no Brasil. A primeira ocupará uma área de 53 850 metros quadrados da ilha Comprida, município de Iguape, no litoral sul de São Paulo.

A idéia é de três técnicos (dois japoneses e um francês naturalizado brasileiro) que pretendem levar o país ao "estágio tecnológico da pesca", atingido por apenas alguns países, como o Japão (onde foi instalada a primeira fazenda marítima), os Estados Unidos e a França.

fazenda 1-Criação de peixes com cerco flutuante(tanque rede)
2-Trapiche
3-Bomba para água salgada
4-Tanques para engorda de peixes
5- Tanques para alevinos
6-Casa de incubação e laboratório
7-Casa de equipamentos (força, material etc)
8-Preparação de alimentos
9-Escritório
10-Comporta de água salgada
11-Cultura de algas
12-Bomba de água doce (poço)
13-Casa de funcionários

"A fazenda, como os japoneses a conceberam", diz o professor Antônio Berberian, 42 anos, especialista em tecnologia e aproveitamento do pescado, "é um meio de promover ou aumentar o crescimento dos seres do mar, desenvolvendo a produção de animais, plantas marinhas ou de águas salobras para fins comerciais. Os animais e as plantas serão protegidos e alimentados em áreas próprias ou arrendadas."

O lugar ideal para uma fazenda é, naturalmente, perto do mar, em terreno rochoso, para facilitar a montagem, e longe - o mais longe possível - de todas as formas de poluição (sonora, química, biológica, etc.). Será necessário, também, que esteja ligada por boas estradas aos centros consumidores. "Mas, rigorosamente, não existe terreno impróprio", acrescenta Berberian. "Cada terreno pode ser utilizado para determinado fim. O que limita o tipo de cultivo é a água encontrada no local. Se for doce, por exemplo, exige concentração numa só espécie. Salgada, também. Bom mesmo é que existam no local as duas águas." Kenji Shimizu, 39 anos, um dos técnicos japoneses do projeto de Iguape, especialista em agricultura (o outro é Ioshio Itaya, de 41 anos, especializado em captura de pescado), explica que o Japão instalou a sua primeira fazenda, logo após a Segunda Guerra, para atender às novas necessidades de alimentação da classe média em expansão. "A classe média não só cresceu muito", diz ele, "como passou a se interessar por pratos mais sofisticados. O país teve, então, que encontrar uma saída para o problema."

Japão, o segundo do mundo em pescado - Para montar as primeiras fazendas, os cientistas utilizaram desde as modernas técnicas aperfeiçoadas na guerra, como o radar, à experiência milenar do país no cultivo de pérolas artificiais. Hoje, o Japão tem centenas de fazendas, onde se criam oito espécies de peixes (salmão, truta, carpa, enguia, tainha, peixeboi, pargo e piramutaba), além de camarões, ostras, mexilhões, caramujos e algas marinhas. Graças às fazendas, o país ocupa (trinta anos depois do fim da guerra) o segundo lugar (depois do Peru) entre os produtores mundiais de pescado, com 8 669 880 toneladas, segundo estatísticas de 1968.

Uma fazenda marítima compõe-se, geralmente, de uma estação de estudos biológicos, uma usina para preparar rações suplementares e os tanques de seleção e desenvolvimento. Custo da obra: uma média de 3,5 milhões de dólares (cerca de 21 milhões de cruzeiros). A de Iguape deverá custar um pouco menos, porque o terreno onde será instalada foi doado à Escola de Tecnologia do Mar de Guarujá.
Por enquanto foram concluídos apenas os estudos tecnológicos (tudo relacionado com a Construção da fazenda: edifícios, tanques, canais, etc.). E já foi escolhida a primeira espécie de peixe a ser cultivada: a manjuba. "Em nossas pesquisas", diz Shimizu, "descobrimos que, há trinta anos, uma empresa denominada Pirá industrializou essa espécie e a exportou, com muito sucesso. A empresa faliu porque as exportações foram proibidas."

A fazenda de Iguape, embora tenha sido idealizada como um prolongamento da Escola de Tecnologia do Mar, terá também fins comerciais. Berberian é de opinião que um projeto caro como esse não pode ter apenas o objetivo de instruir, precisa dar lucros. "Por isso", acrescenta, "decidimos começar pela segunda fase (setor de desenvolvimento). Construiremos as piscinas, engordaremos os peixes e os venderemos vivos. Só depois de termos ganho algum dinheiro é que poderemos implantar a infra-estrutura necessária às pesquisas."

Mais quatro fazendas no Brasil - O setor mais caro de uma fazenda marítima é a estação biológica, laboratório onde as espécies marinhas se reproduzem. O trabalho dos técnicos, nesse setor, é manter as chamadas células produtoras (machos e fêmeas) em condições artificiais, mas provocar uma fecundação mais próxima possível do natural.
Além da de Iguape, a equipe do professor Berberian pretende instalar mais quatro fazendas, em outras regiões do Brasil: Porto Seguro, na Bahia, onde querem cultivar espécies consideradas nobres, como a garoupa, a lagosta e o robalo; Manacapuru, no Amazonas, para peixes de água doce: pirarucu e tucunaré, por exemplo; em Torres, no Rio Grande do Sul, e Laguna, Santa Catarina, para o cultivo de camarão e cação.

O professor Berberian está certo de que essas regiões ganharão muito com a instalação das fazendas. "Posso enumerar pelo menos uma dezena de vantagens", diz ele.

"Por exemplo: o homem do mar é um peregrino por natureza, nunca se fixa em nenhum local. Sua habitação é a do dia e não a do ano. Com esses cinco projetos fixaremos os elementos na sua região de origem e elevaremos o seu nível cultural. As vantagens econômicas também são fáceis de apontar. Primeiro, haverá maior aproveitamento dos recursos da região, através de um levantamento de alto nível. E surgirá um novo pólo de desenvolvimento."

 
 

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