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Bons Fluidos, 1/04/2008

Ukiyo-e, arte delicada reconstrói a realidade

Os japoneses são mesmo mestres em manter vivas algumas tradições. Até exportam, como é o caso do
ukiyo-e – gravuras que retratam com fidelidade o jeito de viver de séculos atrás. Veja aonde estas paisagens
podem levar você

TEXTO PAULO CUNHA, FOTOS SALVADOR CORDARO

Cena com o monte Fuji ao fundo, do artista Katsushika Hokusai.
Gravura que remete a cenas do cotidiano e é uma obra de Ando Hiroshige.
Figura de homem, que retrata um ator do teatro kabuki (japonês), da autoria de Toshusai Sharaku.

Mesmo quem nunca pisou no Japão já deve ter visto, pelo menos de relance, uma gravura ukiyo-e (fala-se uquioê). São imagens de cortesãs sensuais, bravos samurais, atores do teatro kabuki (o teatro japonês) e paisagens que têm como pano de fundo o monte Fuji. As gravuras estampam canecas, blocos de anotação, capas de agenda e cartões e podem ser encontradas facilmente em lojas de decoração, livrarias, museus e, em São Paulo, pipocam aos montes no tradicional bairro japonês da Liberdade. As gravuras agradam aos diferentes gostos – do refinado ao popular – e assim mantêm essa arte viva e atual. No Japão, existem, inclusive, universidades que ensinam a técnica deste desenho aos orientais e também aos ocidentais.

A palavra ukiyo-e indica
uma visão idealizada da vida
e do comportamento humano

O ukiyo-e surgiu há mais de 300 anos e, além de ser bonito de ver, Ukiyo-e retrata com graciosidade a história de seu país de origem. A tradução da palavra é “figuras do mundo flutuante”, uma expressão que passa a idéia de efemeridade, como se os temas desenhados vagassem no tempo e no espaço. A palavra, compilada do vocabulário budista – e, portanto, importada da China –, indica uma visão idealizada da vida e do comportamento humano. No Japão, a idéia passou a ser utilizada na literatura, principalmente na poesia, para mostrar que a vida no mundo nada mais é que um sonho passageiro.

Representação do monte Fuji, de Katsushika Hokusai

Autoria de Kitagawa Utamaro, que produziu figuras femininas. Seus desenhos representam as mulheres de Yoshiwara, um bairro de prostituição japonês.

Estampas de Ando Hiroshige...

... que se inspirou nas 53 estações entre as cidades de Edo e Kioto.

Figuras urbanas
A beleza das figuras, aliadas a uma técnica particular, fez do ukiyo-e uma arte cultuada também fora do Japão e acabou inspirando até os impressionistas franceses.

Este tipo de desenho é um dos vários estilos da arte gráfica japonesa surgidos no período Edo (1600 - 1868), quando a capital imperial do Japão foi transferida para a região onde hoje está Tóquio. Edo era o centro econômico e cultural do país. Os artistas que se dedicavam ao estilo retratavam o dia-a-dia da época: as belas mulheres de Yoshiwara (bairro de prostituição de Tóquio), os atores do teatro kabuki, os lutadores de sumô e o cotidiano da cidade, além das paisagens em torno do monte Fuji. Pode-se dizer que as figuras ukiyo-e tiveram, no passado, a mesma popularidade conquistada hoje pelos mangás. A partir do século 15, elas começaram a ser impressas em massa, reunidas em álbuns e vendidas nas ruas, tornando-se, assim, populares.

O ukiyo-e, em sua evolução estética, teve pelo menos três fases importantes: a inicial, com a utilização exclusiva da tinta preta e cuja maior expressão foi o artista Hishikawa Moronobu (1618-1694), a segunda, em que os temas preferidos eram as beldades japonesas e os atores do teatro kabuki, e a terceira, a das paisagens. Foi nesse momento que a técnica se aperfeiçoou e ganhou maior riqueza no traço e equilíbrio na combinação das cores. Vale saber que a elaboração de ukiyo-e pode durar até um mês. Tanto trabalho não poderia ser barato: o preço médio de uma reprodução pode chegar a 15 mil ienes, cerca de 200 dólares. Confira, a seguir, quatro dos principais artistas desta arte que reproduzem uma época.

O monte Fuji
Katsushika Hokusai (1760-1849) é o maior nome do ukiyo-e. Sua obraprima é As Trinta e Seis Vistas do Monte Fuji. Aos 70 anos, decidiu retrabalhar o tema e lançou o livro Cem Vistas do Fuji, considerado ainda mais perfeito que o anterior. Hokusai estudou pintura ocidental por conta própria e aplicou várias técnicas de luz e sombra, até então desconhecidas no Japão, para obter os efeitos de perspectiva que dão o caráter de tridimensionalidade típico de suas obras.

A beleza do feminino
Kitagawa Utamaro (1753-1806) ficou conhecido por suas gravuras de beldades japonesas, como gueixas e prostitutas. O traço gracioso e a habilidade na composição das cores fazem dele um mestre no estilo. Utamaro mudou para Edo ainda jovem com o intuito de aprender a técnica do ukiyo-e. Em pouco tempo, foi descoberto por um famoso gravurista local e, a partir daí, obteve fama e reco nhe cimento. Entre suas obras estão Poemas de Amor, Beldades Populares, Dez Qualidades de Mulher e Dez Tipos de Mulher. Dá para ver que Utamaro era fã da temática feminina.

Registros de viagem
Um dos últimos mestres do ukiyoe foi Ando Hiroshige (1797-1858). Numa viagem entre Edo e Kioto, ao longo da ro ta de Tokaido, que ligava as duas cidades, Hiroshige parou em cada uma das 53 estações de pernoite e retratou o que viu. O resultado foi publicado em 1832, na série Cinqüenta e Três Estações de Tokaido, composta de 55 estampas – além das paradas, ele desenhou o início da estrada, na ponte Nihonbashi, que pode ser vista até hoje no centro de Tóquio, e a chegada a Kioto. Trata-se de uma obra que, ao lado do conjunto Os Cem Lugares Célebres de Edo, fizeram de Hiroshige um dos mais populares artistas de ukiyo-e.

Imagens do teatro kabuki
Pouco se sabe sobre Toshusai Sharaku, outro importante mestre des ta arte. Nem mesmo as datas de seu nascimento e morte são conhecidas. Pelo que aparece retratado em suas obras, ele atuou apenas entre maio de 1794 e fevereiro de 1795. Durante esse curtíssimo pe ríodo, Sharaku publicou cerca de 150 desenhos. Ele especializou-se em retratar atores do teatro kabuki e, em pouco tempo, tornou-se o maior expoente do tema. A cabeça grande de seus personagens, excessivamente realista, é sua marca registrada, que o fez famoso também fora do Japão.

Para perpetuar esta história

É nas universidades e escolas de artes gráficas de Tóquio que está o futuro do ukiyo-e. Nesses centros, os alunos aprendem as técnicas já conhecidas e as aplicam para criar algo novo.“ As técnicas antigas ain da são ensinadas, mas os jovens se voltam mais à experimentação, com imagens fotográficas e pesquisa de novos meios, não raro mesclando-os”, explica Madalena Hashimoto, vice-diretora do Centro de Estudos Japoneses da USP, que aprendeu xilogravura no Japão. Os estrangeiros, aliás, se interessam mais por essas aulas que os japoneses. Em sua temporada por lá, a professora Madalena conheceu gente da Irlanda, Portugal, Índia e Coréia.
 

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