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Exame, 15/09/2004

Os novos dekasseguis

ROBERTO SHINYASHIKI

Brasileiros no Japão não são mais apenas operários. Eles abrem as próprias empresas

Valdemir Cunha

japao
O brilho de Tóquio: oportunidade de negócios para os brasileiros

Tentar a vida no Japão está deixando de ser uma experiência temporária para se tornar uma opção de vida para os brasileiros. Acabei de chegar do Japão, onde cruzei com milhares de empreendedores brasileiros. É uma segunda onda. Preocupados com o desemprego e a insegurança no Brasil, os dekasseguis estão adotando o Oriente para fazer carreira e estabelecer família. A primeira onda ocorreu no início da década de 90, quando o número de brasileiros em solo japonês saltou em pouco tempo de 2 000 para mais de 100 000. Eles iam trabalhar no Japão para juntar economias e voltar para o Brasil. Muitas pessoas usaram bem os recursos. Abriram negócios promissores, construíram ou compraram imóveis. Outros perderam o dinheiro conquistado.

Conheci um dekassegui que, no Japão, cumpria uma carga de sete dias por semana, 15 horas por dia. Voltou para o Brasil com 150 000 dólares. Todo o dinheiro fora usado para abrir uma avícola. Mas, como não entendia do negócio, ele montou a avícola ao lado de um supermercado. E vendia sua ave mais cara do que o vizinho, um erro banal que o prejudicou. Tal como esse homem, muitos dekasseguis desperdiçaram tudo o que ganharam. Nessa segunda onda, identifico dois tipos de pessoa: as que decidiram fazer carreira em empresas japonesas e as que encontraram oportunidades de empreender. Os novos dekasseguis estão despertando para uma oportunidade, que é a própria comunidade local de brasileiros. O ramo de alimentação, por exemplo, tem sido um nicho promissor. Há hoje cerca de 300 000 brasileiros no país, a maioria deles trabalhando em fábricas, sem simpatia pela comida local. Foi para atender essa demanda que o paulistano Fábio Yonemoto deu início à Água na Boca Foods. Em 1994 — quatro anos depois de ter chegado ao Japão —, Yonemoto começou o trabalho de entrega de comida pronta para brasileiros. Hoje, atende todo o território japonês e distribui 360 toneladas de croquetes, coxinhas, massa de pastel, queijo e lingüiça.

Renato Junji Tanabe e Kenji Kawai saíram do Brasil para trabalhar numa empresa de telefonia em Tóquio. Em pouco tempo perceberam que os brasileiros podiam (e precisavam) pagar mais barato para telefonar ao Brasil. Em 1996, fundaram a Brastel Corporation e passaram a oferecer ligações internacionais por uma tarifa menor que a maioria das chamadas domésticas. Agora, a companhia emprega cerca de 180 colaboradores para atender estrangeiros, em mais de 19 idiomas. É a maior empresa de cartões telefônicos internacionais do Japão. Até onde vai a segunda onda ninguém sabe. Mas suspeito que esses dekasseguis não voltarão mais. Tornaram-se empresários.

Desde o final da década de 80, o número de brasileiros de origem japonesa que vão trabalhar no Japão explodiu

1980 - 2000
1990 - 100 000
2000 - 300 000

*Roberto Shinyashiki é escritor e palestrante


 

 
 

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