Reportagens › O Japão é aqui
Luiza Andrade
Aniversário de 100 anos da imigração é convite para discutir a cultura nipônica e confeccionar pipas típicas com turmas do 1º ao 5º ano
No dia 28 de abril de 1908, centenas de famílias deixaram o Porto de Kobe, no Japão, a bordo do navio Kasato Maru. Na bagagem, o sonho de fugir de uma situação econômica difícil e o desejo de prosperar no Brasil. Em 18 de junho,781 japoneses finalmente chegaram ao Porto de Santos.
O centenário dessa primeira viagem é uma boa oportunidade para abordar conteúdos didáticos com alunos de todas as séries do Ensino Fundamental. Nas aulas de Arte, a sugestão é construir junto com a garotada do 1º ao 5º ano um modelo das milenares pipas orientais. Assim como origamis e ikebanas, elas são importantes elementos trazidos pelos migrantes para o Brasil. Na área de História, falar sobre a imigração é uma maneira de mostrar à classe a contribuição japonesa à cultura e à economia de nosso país, ontem e hoje. Antes de chegar lá, é importante contextualizar com a turma que circunstâncias levaram os japoneses a abandonar sua terra natal. Guerras contra a Rússia e a China haviam castigado a população do país e elevado os índices de inflação. Além disso, os processos de modernização e industrialização implantados pelo imperador Meiji a partir de 1868 provocaram êxodo rural, explosão demográfica nas cidades e desemprego. A situação era tão caótica que o próprio governo japonês passou a estimular a emigração. Nesse cenário, as fazendas de café do Brasil eram um destino atraente.
Crise e oportunidade
Mas a realidade era bem diferente da que muitos esperavam. Nas plantações de café no interior de São Paulo, destino principal dos primeiros viajantes, as más condições de trabalho somavam-se ao preconceito racial e às dívidas – grande parte do salário era gasta com parcelas da viagem, alimentos e remédios. Mesmo assim, perto de 170 mil japoneses desembarcaram aqui até 1941, o que não deixa de ser curioso se lembrarmos que esse intervalo inclui o tenebroso período da grande depressão, a crise econômica desencadeada pela quebra da Bolsa de Nova York, em 1929. A explicação é que isseis e nisseis souberam aproveitar as oportunidades geradas com a reorganização das atividades produtivas. “A crise do capitalismo atingiu a cafeicultura, levando à divisão das grandes fazendas. Com isso, os imigrantes conseguiram comprar sítios a custo baixo para a agricultura de pequeno porte, iniciando o plantio de frutas, hortaliças e algodão”, explica Célia Sakurai, pesquisadora especializada na história da imigração japonesa.
Os ventos da bonança pararam de soprar em 1939, com o início da Segunda Guerra Mundial. O governo brasileiro, que apoiava os Aliados (Inglaterra, União Soviética, França e Estados Unidos), impôs restrições aos nascidos nos países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). O preconceito contra os imigrantes se fortaleceu. “Jornais e escolas freqüentadas por filhos de japoneses foram fechados. E houve nomeação de interventores nas empresas dirigidas por estrangeiros e seus descendentes”, conta Célia.
Caminho contrário
Bibliografia
A Dobradura do Samurai,
Ilan Brenman,
48 págs., Ed. Cia. das Letras,
tel. (11) 3707-3500, 32 reais
O Sol se Põe em São Paulo, Bernardo Carvalho, 168 págs., Ed. Cia. das Letras,
34 reais
Os Japoneses, Célia Sakurai, 368 págs., Ed. Contexto, tel. (11) 3832-5838, 49,90 reais
Internet
Em www.japao100.abril.com.br, coletânea de reportagens sobre
a imigração, histórias e álbuns
de fotos de imigrantes nipônicos
e seus descendentes
Com o fim da guerra, em 1945, a situação começou a se normalizar. Outros 45 mil japoneses chegaram até 1963. Uma parcela dos imigrantes continuou seguindo para o campo, mas um número significativo se instalou nos centros urbanos. Aproveitando a expansão do setor de serviços, muitos japoneses passaram a se dedicar ao comércio, abrindo bares, restaurantes
e mercearias. De acordo com o último Censo, de 2000, há cerca de 1,5 milhão de imigrantes e descendentes de japoneses no Brasil, sendo 700 mil no estado de São Paulo. Como última informação importante, vale lembrar aos estudantes que o fluxo migratório entre os dois países ainda sobrevive – só que agora ao contrário. Desde a década de 1980, milhares de brasileiros descendentes de japoneses partiram para a terra do Sol nascente em busca de melhores salários. Lá, eles trabalham geralmente como operários de fábrica, têm uma rotina difícil e, quando conseguem, economizam e mandam dinheiro para os familiares no Brasil. Como seus bisavós há 100 anos, muitos sonham
em voltar à terra natal.
Todas as gerações do centenário
Nikkei é como os japoneses chamam os imigrantes e seus descendentes nascidos fora do Japão.
Cada geração (sei) recebe um nome específico, dependendo do grau de parentesco
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Os pioneiros que embarcaram no Kasato Maru saíram do Porto de Kobe, no Japão. O navio não oferecia nenhum conforto: os imigrantes dormiam em esteiras estendidas no chão e os banhos (na base do balde de água) eram racionados a dois por semana.
Fases da imigração |
Fatos importantes |
Total de imigrantes |
Estados habitados pelos imigrantes |
1908-1923 Nesse período, a imigração era subsidiada pelo governo de São Paulo, interessado em substituir os italianos nas lavouras de café (a Itália interrompeu o incentivo à migração em 1902). | 1907 O governo brasileiro publica a Lei de Imigração e Colonização, permitindo a vinda dos japoneses. 1908 Chegada do Kasato Maru. 1910 Chegada do segundo navio,Ryojun Maru, com 906 migrantes |
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1924-1941 O governo paulista interrompe o subsídio. O incentivo financeiro passa a ser bancadopelo governo do Japão, como forma de aliviar a pobreza no campo e nas cidades nipônicas. | 1937 No Estado Novo, cresce o antiniponismo. O governo brasileiro fecha entidades dos imigrantes. 1940 Proibida a circulação de publicações em japonês atéo fim da Segunda Guerra Mundial. |
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1952-1963 Depois de o governo brasileiro decretar a interrupçãda imigração por causa da SegundaGuerra, o fluxo é restabelecido, mas começa a diminuir conforme a economia japonesa melhora. A última leva chega em 1963. | 1951 Encorajadas pelo estreitamento de relações entre os dois países, empresas japonesas iniciam investimentos no Brasil. 1958 O número de imigrantes japoneses e descendentes no país ultrapassa 400 mil. |
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Total de japoneses hoje no Brasil: |
Fases da imigração | Fatos importantes | |
De 1985 até hoje Com a economia brasileira em crise, descendentes de japoneses nascidos no Brasil viajam para o Japão em busca de trabalho temporário em fábricas. São chamados de decasséguis(que vem da junção de deru = sair e kassegu = ganhar dinheiro). | 1985 Brasileiros descendentes de japoneses começam a migrar para o Japão. 1990 A reforma da Lei da Imigração no Japão permite que descendentes até a terceira geração obtenham visto de trabalho. Entre 1990 e 1991,o país recebeu 100 mil brasileiros. |
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A viagem Em contraste com as duras condições do Kasato Maru, hoje aviões partem das principais capitais brasileiras rumo ao Japão, aonde chegam em 24 horas. No auge da “invasão” dos decasséguis, o número de vôos entre Brasil e Japão mais que triplicou: foi de 23 mil em 1985 para 76 mil em 1994. |
Total de brasileiros hoje no Japão: |
Disciplina Arte. | |
Objetivos Aprimorar recorte e colagem. Promover o estudo e a percepção de cores e formas geométricas. Conteúdos Anos 1º ao 5º. Tempo estimado Duas aulas Material necessárioArame maleável, papel crepom, papel espelho, tesoura, cola, varas de bambu de 30 cm (uma por criança). Desenvolvimento 1ª EtapaAvalie o que as crianças já conhecem sobre o assunto mostrando imagensde pipas japonesas. Como construir esses objetos? Distribua pedaços de papel espelho ou colorset para que as crianças recortem figuras geométricas. 2ª Etapa
| 3ª Etapa Peça que a turma cole as figurasdecorativas no cano. Depois, oriente-a a fazer tiras de crepom, que devem ser coladas a uma das pontas. 4ª Etapa ![]() 5ª Etapa ![]() Produto Final Avaliação Consultoria: André Vilela, professor de Artes Visuais. |
Disciplina História. | |
Objetivo Discutir a influência do Japão em nossa cultura. Conteúdo Tempo estimado Três aulas. Material necessário Desenvolvimento 1ª EtapaAvalie o conhecimento perguntando por que os japoneses imigraram para o Brasil. Deixe-os consultar livros que falem do assunto, como O Sol se Põe em São Paulo e Os Japoneses (leia mais informações no Quer saber mais?). |
2ª Etapa Solicite aos alunos uma pesquisa de texto e imagens sobre as principais características da cultura japonesa: culinária, tecnologia, tradições... Divida a classe em grupos e peça que eles escolham um tema e façam um cartaz. Vale citar elementos atuais, como mangás (histórias em quadrinhos) e animês (desenhos animados). 3ª Etapa Avaliação Consultoria: Ricardo Barros, professor do Colégio Paulista, em São Paulo, SP. |
Os japoneses chegaram aqui há um século. Desde junho de 1908, muita coisa aconteceu. Ajude a resgatar essa memória.
Conte sua história em vídeos, fotos, áudios e texto Monte a árvore genealógica
Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil