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Vida Simples, 1/07/2004

Móveis Baixos rente ao chão

ROBERTA DE LUCCA

Móveis baixos não servem apenas para decorar. Eles aproximam as pessoas e trazem para dentro de casa alguns hábitos culturais diferentes

Manuel Nogueira
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O corte da foto pode parecer estranho, mas ele é bem adequado: tudo o que interessa na sala está aqui, bem baixinho (móveis e objetos da Futon Company)

Casa gostosa é aquela em que a gente se sente bem em todos os lugares. Cada ambiente revela um pouco da personalidade do morador. Por isso, a escolha do que e como usar em nossa moradia é livre e extremamente pessoal. Tem gente, por exemplo, que gosta de viver rodeada de móveis baixos, bem rentes ao chão. Os espaços parecem maiores e as reuniões com os amigos ficam mais descontraídas e íntimas. E não é difícil criar esse clima. Basta achar as peças certas, ter bom senso na hora de arrumar o espaço e, importante, prestar atenção à ergonomia.

A sala e o quarto são os lugares mais fáceis de decorar com móveis baixos. A escolha fica entre sofás e mesas de centro (40 centímetros de altura em média), pufes, banquetas e camas feitas com estrado ou caixa de madeira. Outra alternativa é usar elementos orientais como os tatames (placa de palha de arroz prensada e forrada com uma esteira do mesmo material, com 5,5 centímetros de espessura) e os futons (colchão de algodão de diversas densidades). Além de bonitos, são versáteis: é só mudá-los de lugar de tempos em tempos e a sala (ou quarto) fica de cara nova. Não por acaso, nas vilas do interior do Japão, onde essas peças nasceram, os ambientes são conversíveis. Quando há uma reunião, o dono da casa libera espaço retirando as divisórias de papel-de-arroz e guardando os poucos móveis: tatames, mesinhas, almofadas e futons. “As residências tradicionais japonesas são multifuncionais. Ter só as peças necessárias facilita a mudança”, diz Koichi Mori, antropólogo e professor do Centro de Estudos Japoneses da Universidade de São Paulo.

O truque é explorar as combinações que um tatame, um punhado de almofadas e mesinhas possibilitam. A medida padrão de um tatame é 1,80 metros de comprimento por 90 centímetros de largura. Junte alguns e monte a sala de estar sobre eles. Almofadas aumentam o conforto e a quantidade de assentos no caso de receber visitas. Num jantar, substituem as cadeiras – caso você tenha uma mesa de centro baixa. Estantes baixas acomodam TV, som, livros e CDs.

No quarto, uma alternativa à cama entre 30 ou 50 centímetros de altura é colocar um futon de casal sobre dois tatames. “É ótimo e não tem o inconveniente dos colchões de mola, que mexem quando a outra pessoa se vira durante a noite”, afirma Bénédicte Salles, que junto com o marido, Matthieu Halbronn, comanda a loja Futon Company.

Manuel Nogueiramorar2
As almofadas ajudam a acomodar as pessoas sentadas e ainda aumentam o número de assentos (móveis e objetos da Futon Company).

Diferença cultural
Se você não dispensa o bom e velho sofá, mas tem uma sala grande, pode reservar parte dela para um cantinho rasteiro. “Na casa dos meus pais, em Wardha, tínhamos um grande colchão indiano e muitas almofadas na sala”, diz a indiana Meeta Ravindra, que mora no Brasil há 31 anos e é a presidente do Instituto Filosófico Índia-Brasil. Meeta conta que nas habitações tradicionais hindus tudo fica no nível do chão, inclusive na cozinha, onde a mulher prepara as refeições sentada no piso e varre-o agachada.

Nas antigas tribos africanas, os sacerdotes sentavam em banquinhos e os demais ficavam no chão. Na Grécia e no Egito, cadeiras sobre plataformas eram luxo só dos nobres e faraós. Os assentos eram sinal de status. “Os móveis surgiram da necessidade das pessoas de guardar coisas. Com o passar do tempo seu tamanho e altura foram sendo adaptados”, diz o professor de desenho industrial da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, João Bezerra de Menezes. Para ele, o móvel rente ao chão é desconfortável e pode trazer problemas de saúde. “Cama boa é aquela em que sentamos com as pernas dobradas em 90 graus no quadril e joelhos e encostamos os pés no chão antes de levantar”, diz.

Mas essa é uma discussão mais cultural do que ergonômica. Na Índia, na China e no Japão, móveis baixos são um modo de vida. Dormir no nível do chão e cozinhar agachado são atividades cotidianas tão comuns quanto sentar em cadeiras é normal para quem mora no Ocidente. Mas, quando um ocidental resolve colocar móveis baixos em sua casa, é necessário levar em conta outras características culturais.

A alimentação é uma delas. “Os japoneses comem muita verdura e peixe e por isso a população de obesos é pequena. Também come-se pouco sal, o que é ótimo, porque ele resseca os tendões e prejudica os movimentos”, diz Roque Enrique Severino, diretor da Sociedade Brasileira de Tai Chi Chuan e Cultura Oriental. O grau de sedentarismo também conta. Quem não faz exercício, passa o dia sentado e tem pouca flexibilidade terá mais dificuldade para se acomodar no chão.

Se você tem esse perfil e sempre sonhou em ter uma salinha baixa, há duas saídas. A primeira é botar a saúde em dia. “O corpo são, fortalecido por exercícios regulares, ajuda a pessoa a se movimentar num ambiente com peças baixas. Não acho que o móvel baixo seja determinante para causar problemas de saúde. Há vários fatores que podem fazer mal”, diz Marina Kazumi Chen, diretora do Instituto Pai Lin de Cultura e Ciência Oriental, de São Paulo. Os médicos Oldack Barros, presidente da Sociedade Brasileira de RPG, e Rames Mattar Júnior, da Sociedade Brasileira de Ortopedia, concordam que musculatura em dia ajuda a lidar com móveis baixos, mas acham que esse mobiliário exige mais dos músculos e ossos ao levantar e abaixar, o que pode gerar dores nas costas e desgaste das articulações.

A segunda saída é prestar atenção aos movimentos. “As pessoas precisam se concentrar no corpo não só quando estão doentes. E na hora de sentar ou levantar de um móvel baixo, basta perceber qual é a posição mais confortável”, diz Flora Maria Vezzá, fisioterapeuta e consultora de ergonomia da Fundação Vanzolini, da Escola Politécnica da USP. Meeta vai mais longe: “No chão, as pessoas ficam mais próximas e íntimas. Precisamos disso”.

No chão, mas com bom gosto
1. Em vez de uma cama baixa tradicional ou de colocar o colchão diretamente no chão, você pode fazer uma cama com uma prancha de madeira e rodízios. Como criado-mudo, use módulos de madeira.
2. Banquetas baixas são peças de dupla função: além de servirem de assento, duas ou quatro colocadas juntas substituem uma mesa de centro.
3. Quer uma poltrona de futon? Basta dobrá-lo no formato de "S" e encostar a parte de cima na parede.
4. Para melhorar o conforto de um sofá feito com futon ou colchão indiano (com laterais retas), encoste almofadas em formato de rolo na parede e ponha sobre elas almofadas quadradas.
5. A cada dois meses, em média, coloque o tatame com a parte de baixo virada para o sol para arejar a peça. Para limpar, use pano úmido com água e sabão de coco, seque com pano seco e deixe tomar bastante ar.

Para saber mais
Associação Médica Homeopática Brasileira, www.amhb.org.br, (61) 345-6077
Associação Paulista de Homeopatia, www.aph.org.br, (11) 5575-8817
Conselho Federal de Medicina, www.portalmedico.org.br, (61) 445-5900
Universidade Federal de São Paulo – Setor de Homeopatia, www.unifesp.br, (11) 5573-6908 e 5576-4432


 

 
 

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