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Veja São Paulo, 3/10/2007

Jeitão de desenho animado

GISELE KATO

Jovens entram na onda do cosplay e vestem-se como personagens de mangá

Esbarrar com um personagem de desenho japonês na rua, em plena luz do dia, já não é algo tão difícil. Os cosplayers, abreviação de costume players (algo como jogadores de fantasia, em português), estão na moda entre jovens paulistanos ligados à cultura dos mangás e animes. Para quem ainda treina o paladar para o peixe cru, o universo das histórias em quadrinhos lidas de trás para a frente e tomadas por criaturas de olhos exageradamente redondos pode parecer restrito à colônia. Mas essa sensação deve durar o tempo de mais um restaurante japonês abrir as portas. Há pelo menos um encontro de cosplay por semana na cidade. E não apenas no bairro da Liberdade. Reunidos em sites e comunidades do Orkut, os adeptos freqüentam em turmas endereços típicos de adolescentes, como shoppings e lanchonetes. No Parque do Ibirapuera, por exemplo, eles fazem piqueniques e sessões de fotos. Tudo em nome de uma rotina com um limite estreito entre realidade e ficção.

Mario Rodriguesfazenda de peixes
Maurício e Mônica Somenzari, de Rociel e Alexiel: irmãos na vida real e na ficção

Como a única regra no cosplay é que as fantasias fiquem fiéis às dos desenhos originais, os jovens, geralmente entre 15 e 25 anos, vão à luta para criar suas versões. Vale até bater na porta de um carnavalesco e conseguir, na base da insistência, um cursinho rápido sobre como cobrir asas de 2 metros de altura com penas brancas compradas na Rua 25 de Março. Foi o que fizeram os estudantes Maurício e Mônica Somenzari, irmãos de 21 e 19 anos. Por duas semanas, eles avançaram madrugadas colando, uma a uma, as penas das seis asas que vestem Rociel e Alexiel, do mangá Angel Sanctuary. Com as roupas, venceram o World Cosplay Summit 2006, uma espécie de Copa do Mundo dos cosplayers. A competição, organizada há cinco anos no Japão, leva a Nagoya as melhores duplas de vários países. “Fomos na estréia do Brasil e saímos campeões”, diz Maurício, que agora se prepara para uma disputa no México. Primeiro lugar no Yamato Cosplay Cup, outro evento grande na capital, a webdesigner Andressa Miyazaki, de 28 anos, enfrenta uma final internacional, em janeiro, em São Paulo: “Comecei sozinha, em 2004. Nunca pensei que chegaria tão longe.”

Mario Rodriguesfazenda de peixes
Clailson Sousa, de Roy Mustang: o herói solta fogo pelas mãos
(à esq.). Marcella Brogioni, como Sasuke Uchiha: “Sei mexer com papel machê, massa acrílica e EVA”

Os concursos internacionais motivam de fato essa turma. “Até o ano passado, o site Cosplay Brasil tinha cerca de 1.000 membros. Hoje, somos quase 4.000”, afirma Fernando Carreno Siqueira, que coordena desde 2003 dois dos principais eventos em São Paulo, o Anime Friends e o Anime Dreams. Ele é um exemplo típico do grupo. A primeira vez que ouviu falar em cosplay, dez anos atrás, nem havia mangás em português no mercado. Siqueira chegou a ter aulas de japonês durante três anos para conseguir ler algumas histórias.

Para fazer sucesso nas competições, não basta ter uma fantasia idêntica à do desenho. A performance no palco também é avaliada. Nesse caso, nem sempre conta a atitude parecida, mas o inusitado. O técnico de informática Clailson Sousa, de 25 anos, dublou uma improvável canção dos Beatles na pele de Roy Mustang, um dos heróis do anime Fullmetal Alchemist. Cosplayer que se preze não tem vergonha. Nem de cantar para um público de 80.000 pessoas (número alcançado durante os cinco dias da edição deste ano do Anime Friends, em julho, na UniSant’Anna) nem de pegar o metrô vestindo calça e paletó de um azul nada discreto, uma peruca preta para lá de bizarra e luvas brancas.

Mas o status entre os colegas vem quando se consegue fazer a roupa toda, da costura aos acessórios. A estudante de publicidade Marcella Brogioni, de 18 anos, virou cosplayer em 2006 e já tem sete fantasias no armário. Moderadora da comunidade Cosplay Brasil no Orkut, ela arrisca cortar moldes e se orgulha da autoria de todos os objetos usados por seus personagens.

Mario Rodriguesfazenda de peixes Andressa Miyazaki, como Saber (à esq.): representante do Brasil no Yamato Cosplay Cup
“Sei mexer com papel machê, massa acrílica e EVA, um tipo de emborrachado”, diz, segurando um iPod recheado com músicas japonesas. “Ouço muito os cantores de trilhas de animes. Baixo as letras na internet, junto com a tradução.” Andar por São Paulo vestida de Sasuke Uchiha, do anime Naruto, só com um som oriental no fone.

Glossário

Anime — Animação japonesa marcada por muitos movimentos de cena, enquadramentos ousados e personagens andróginos

Mangá — História em quadrinhos japonesa que deu origem ao anime. A maioria das páginas é em preto-e-branco

Visite o site: http://vejasaopaulo.abril.com.br

 
 

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