Reportagens › Japão brasileiro
Bons Fluidos, 1/05/2008
Texto - Maria Helena Pugliesi
Reportagem Fotográfica - Camile Comandini
Assistente - Renan Candeloro
Eles chegaram trazendo mais do que a esperança. Plantaram costumes, estética, símbolos, filosofia e gestos. Artesãos de nascimento, o talento criativo dos japoneses germinou na alma brasileira, que passou a achar também bonito o que não é espelho. Deleite-se agora com um pouco dessa contribuição.
Do Oriente, veio uma dieta rica É uma oportunidade para o reconhecimento: os 100 anos da imigração japonesa no Brasil, comemorado agora, em junho, evidencia o quanto as tradições desse povo enriquecem nossa vida. Do lado de lá do planeta, ele trouxe hábitos alimentares – como uma dieta mais centrada na proteína de peixes, algas e vegetais –, rituais com uma simbologia que fala do divino em cada fazer diário e uma arte de traços simples e beleza singular. Sobre isso, vale apreciar as peças de cerâmica produzidas por nossos sanseis – a primeira geração de japoneses nascidos no Brasil. “É que no Japão tudo que é feito artesanalmente tem status de arte. A cerâmica está entre as preciosidades desse povo”, explica Michiko Okano, assessora cultural da Fundação Japão. Verdade, no iquebana, a base de barro tem tanta importância quanto a composição das flores, e a cerimônia do chá também não seria a mesma sem a fina louça na qual a bebida é servida. “Nesse ritual, paladar, visão, olfato e tato são estimulados. A xícara é delicadamente apoiada nas mãos para que se sintam seu calor e sua textura. Segundo a tradição, ao terminar de sorver o chá, deve-se virar a xícara e admirar o trabalho do artesão sob outro ponto de vista”, ensina Michiko. É ainda numa cumbuca de cerâmica que os japoneses consomem seu principal alimento, o arroz. |
Rogério Voltan
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O apreço pela estética suave e natural Mesmo com um fundo amargo, o chá verde conquistou seu lugar entre as bebidas daqui. “Esse é um bom exemplo da aculturação dos hábitos japoneses no Brasil. Lá, tomar chá verde está ligado a um ritual budista, e aqui, aos benefícios que a bebida promove à saúde. O significado religioso mais profundo ficou diluído”, argumenta o sociólogo Sérgio Hayashi, autor do estudo Percepção sobre Hábitos Alimentares e Tradição. Nossos japoneses não abandonaram suas tradições, apenas a abrasileiraram. É normal famílias nipo-brasileiras almoçarem arroz e feijão acompanhados de peixe assado à moda japonesa. “Os restaurantes japoneses daqui, no entanto, não têm nada a ver com os de lá. No Japão, cada casa se especializa numa determinada comida. Há as que só servem sobá (caldo quente ou frio com macarrão), outras só lámen (o popular miojo), outras apenas nikomi (cozido de carnes e legumes). No Brasil, em qualquer restaurante japonês, que só em São Paulo somam mais de 600, pode-se provar todas as iguarias da culinária oriental”, conta Michiko. Por sinal, quem for à Terra do Sol Nascente vai se surpreender com o sushi. Enquanto o nosso incorporou maionese, tabasco e até manga, o sushi no império do hashi leva somente arroz e algas por fora. “Essa especialidade da milenar cozinha do Japão tem uma forte simbologia. O arroz significa o povo, e a alga, o país cercado pelo mar”, conta Sérgio. |
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Um estilo zen na casa e na moda Poucos sabem lidar com o papel como os japoneses. “A arte da papelaria sempre foi valorizada no país. Assim como a cerâmica, o papel está atrelado a outras manufaturas, como o origami”, lembra Michiko. Também não se pode esquecer das famosas portas com seus quadriculados de papel de arroz. Um recurso da arquitetura japonesa que tira partido da luz suave que esses elementos proporcionam aos ambientes. No livro Elogio da Sombra, da editora Relógio d’Água, o autor Junichiro Tanizaki esclarece com propriedade como
as nuances da luz são fundamentais na estética tradicional japonesa. Diz ele: “Do rosto das mulheres às salas dos templos, o essencial está na sombra e nos seus efeitos”. Sensíveis e caprichosos, foi essa gente
também que inventou o tatame – a esteira grossa feita de palha, muito apreciada nos ambientes zens contemporâneos. “No passado, a casa japonesa tinha todo o seu piso coberto de tatames. Hoje, a
forração se restringe mais às salas e aos cantos de meditação. Mesmo com uso restrito, a simbologia permanece: deixar as energias negativas nos sapatos do lado de fora e caminhar descalço pela casa, absorvendo o calor purifi cador das fibras naturais”, |
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Os japoneses chegaram aqui há um século. Desde junho de 1908, muita coisa aconteceu. Ajude a resgatar essa memória.
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil