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Veja São Paulo, 30/01/2008GISELE KATO
A cidade é palco de 200 atrações voltadas para o centenário da imigração japonesa no Brasil
Diante da extensa lista de eventos em torno do centenário da imigração japonesa, os quatro anos de preparativos deixam de ser uma piada pronta sobre o rigor do planejamento oriental e passam a fazer sentido. Desde setembro de 2003, uma associação com 500 voluntários trabalha na organização de mais de 400 atrações no país, de competições esportivas a exposições e espetáculos de teatro e dança. A programação estende-se até o fim do ano por várias cidades, mas se concentra em São Paulo, dona do título de a maior colônia japonesa fora do Japão, com cerca de 400 000 descendentes, segundo estimativas do Centro de Estudos Nipo-Brasileiros. De acordo com o presidente da comissão criada especialmente para a data, Kokei Uehara, duas iniciativas destacam-se no calendário: a visita do príncipe herdeiro ao Brasil e o navio que vai reproduzir o trajeto feito 100 anos atrás pelos imigrantes.
Exatamente como ocorreu há um século, no próximo dia 28 de abril uma embarcação sairá de Kobe e chegará ao Porto de Santos com a Tocha da Amizade, símbolo eleito para representar a duradoura relação entre os dois países. O navio repetirá o percurso do Kasato Maru, o primeiro a aportar por aqui, em 18 de junho de 1908. A bordo, estavam 781 japoneses, que enfrentaram uma viagem de quase dois meses. Mais rápida, claro, a versão contemporânea da embarcação deverá vencer a distância na metade do tempo. A tocha ficará na antiga Hospedaria de Imigrantes do Brás, o destino dos grupos na época, antes de seguir para as plantações de café.
Marcada para 18 de junho, a cerimônia oficial do centenário, no Palácio do Itamaraty, em Brasília, terá a presença do presidente Lula e do príncipe Naruhito. Três dias depois, o herdeiro vai participar também de uma celebração no Sambódromo paulistano, com direito a desfile de carros alegóricos — sim, por aqui tem muito japonês no samba! Antes disso, de 13 a 22 de junho, a Semana da Cultura Japonesa toma o Palácio das Convenções do Anhembi com shows, workshops e comidas típicas. Se depender da comissão, ao fim deste ano os paulistanos estarão craques até na refeição com palitinhos. Ops, hashis!
A seguir, confira alguns dos próximos eventos que agitam a programação cultural da cidade.
Reconhecido pelos figurinos coloridos e bordados com fios dourados, o Kagura é um tipo de teatro que começou no Japão do século XI, como ritual religioso no palácio do imperador. Apesar de mais popular, mantém hoje os temas que invocam a paz e a harmonia espiritual. Centro Cultural São Paulo, (11) 3383-3402. Neste domingo (27), 15h. Grátis. |
Fotos Divulgação Mais antiga companhia de teatro de marionetes de Edo no Japão, a Yukiza vem ao Brasil com oito manipuladores de bonecos. Cada um deles, movimentado por vinte fios, tem 60 centímetros de altura.Teatro SESC Anchieta, (11) 3234-3000. 27 de fevereiro, 21h; 28 de fevereiro, 17h e 21h. R$ 20,00 |
Organizada pela curadora do Museu de Arte Contemporânea de Tóquio, Yuko Hasegawa, a exposição Quando Vidas Tornam-se Formas irá contemplar artistas brasileiros e japoneses. A tela ao lado foi feita por Atsuko Tanaka em 1963. MAM, (11) 5085-1300. De 10 de abril a 22 de junho. |
O vaso pintado pertence ao período Edo, que durou de 1603 a 1867 e ficou conhecido como o início da era moderna japonesa. Intitulada O Florescer das Cores — A Arte do Período Edo, a mostra vai reunir 180 peças da época na Pinacoteca do Estado (11 3324-1000) entre 12 de abril e 22 de junho. |
Arquivo Pessoal Zelinda Tanaka
Zelinda, filha de um dos donos do Cine Niterói, em 1962: só filmes japoneses
O Oriente na telaAté o dia 13 de março, a Fundação Japão exibe o projeto Sempre Cinema, com quatro filmes sobre esportes lançados nos anos 90. Entre os títulos selecionados está Duas Voltas: 800 Metros, longa-metragem dirigido por Ryuichi Hiroki, em 1994. Outros temas e estilos da produção cinematográfica japonesa compõem a mostra Cinema Japonês — 100 Anos de Japão no Brasil, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil, de 20 de fevereiro a 9 de março. Com curadoria de André Sturm, o festival traz vinte obras, entre clássicas e contemporâneas. Será a chance de ver, por exemplo, A Luta Solitária, feito por Akira Kurosawa em 1949, e A Enguia, de Shohei Imamura, vencedor da Palma de Ouro em Cannes em 1997. Mas os amantes da produção japonesa nem sempre dependeram de iniciativas esporádicas para acompanhar os lançamentos. Na década de 60, alguns cinemas funcionaram no bairro da Liberdade com uma programação exclusiva. O principal deles foi o Cine Niterói, que abriu as portas em 1953, na Rua Galvão Bueno, com uma sala de 1 500 lugares sempre lotada. Zelinda Tanaka, filha de um dos donos do cinema, recorda-se bem dos tempos áureos: “Falo um japonês arcaico porque aprendi a língua assistindo aos filmes antigos”, conta. “Lembro que os astros vinham do Japão promover as estréias e fazíamos festas em casa para eles.” O nome Niterói, ao contrário do que se pode imaginar, não se referia à cidade fluminense. Surgiu da junção de nitto, que significa Japão, com herói. Depois de um período ainda tentando recuperar a platéia perdida para a televisão com sessões de pornochanchada, o Cine Niterói encerrou as atividades em 1988. |
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Os japoneses chegaram aqui há um século. Desde junho de 1908, muita coisa aconteceu. Ajude a resgatar essa memória.
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil