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Mariana Iwakura
Gaijin - Ama-me Como Sou mostra a saga de quatro gerações de imigrantes japoneses no Brasil
Divulgação
O filme "Gaijin" conta a história dos descendentes dos issei, os primeiros imigrantes japoneses
Desde que o navio Kasato Maru atracou no porto de Santos em 1908, trazendo as primeiras levas de imigrantes japoneses, algumas gerações se fixaram no Brasil e construíram uma cultura diferente. É a história dessas pessoas que a cineasta Tizuka Yamasaki descreve em Gaijin – Ama-me Como Sou, que será lançado este mês. O filme é continuação de Gaijin – Caminhos da Liberdade, de 1980, que mostrou a história de Titoe, uma imigrante japonesa. A nova obra retoma a saga e os esforços dos descendentes da matriarca.
Como Titoe, os imigrantes japoneses vieram, no começo do século passado, para juntar dinheiro. O Japão atravessava uma crise econômica e a mão-de-obra excedente não havia sido absorvida pelas indústrias. O Brasil, após os Estados Unidos terem fechado suas portas para os imigrantes, virou um destino atraente. O plano era fazer um pé-de-meia para a volta ao Japão.
No entanto, o dinheiro ganho nas lavouras de café era pouco e o retorno foi adiado. Mais tarde, esquecido. “Com a derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial, havia um sentimento de perda da pátria”, diz o professor Koichi Mori, do Departamento de Letras Orientais da USP. “Além disso, como os produtos agrícolas foram valorizados durante a guerra, muitos sitiantes japoneses prosperaram no Brasil e permaneceram aqui para criar seus filhos, já aculturados”, acrescenta.
A película aborda também o surgimento dos dekassegui – trabalhadores brasileiros que, a partir sobretudo da crise econômica do governo Collor, em 1990, viajaram ao Japão em busca de trabalho e possibilidades de juntar dinheiro. Em Gaijin – Ama-me Como Sou, Gabriel, brasileiro casado com Maria, neta de Titoe, atravessa o Pacífico como dekassegui (a exemplo de sua sogra, Shinobu). Após o terremoto que atingiu a cidade de Kobe, em 1995, Gabriel é dado como desaparecido, o que leva Maria e Yoko, sua filha mestiça, à terra natal de Titoe para procurar o marido.
O retorno idealizado pelos issei, os primeiros imigrantes, no entanto, não é exatamente o retorno realizado por esses dekassegui. “Eles tinham alta escolaridade, exigiam direitos trabalhistas e não falavam bem o japonês. Não eram bem-vistos pelos japoneses”, diz o professor Mori. Gaijin – Ama-me Como Sou retrata, portanto, o esforço pela aceitação em dois momentos da história da relação entre japoneses e brasileiros, da luta dos issei à dos dekassegui. E, claro, dessa história entre as duas viagens – a história da construção de uma outra cultura, com elementos das duas nações.
Gaijin - Ama-me Como Sou, Brasil, 2005
Estréia: 2 de setembro de 2005
Direção: Tizuka Yamasaki
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil