Reportagens › Dekasseguis - Sem Segunda Chance
Denise Carvalho
Dekasseguis aprendem a investir bem o dinheiro ganho a duras penas no Japão
Ricardo Benichio
Okinawa: o grupo se fortaleceu com dinheiro vindo de fora.
Os brasileiros residentes no Japão fazem remessas para o Brasil que somam 2,5 bilhões de dólares por ano, quase o dobro do volume das exportações de café, um dos principais produtos da pauta comercial. Todas as montadoras de automóveis do Brasil somadas investiram o equivalente a isso em 2002. Ainda no Japão, a maioria desses brasileiros envia ao país boa parte de suas economias. Quando voltam ao Brasil, chegam, em média, com 50.000 dólares no bolso, mais do que o suficiente para iniciar um pequeno negócio. Os valores e o número de pessoas envolvidas são impressionantes. Estima-se que 260.000 brasileiros vivam atualmente no Japão. De olho nesse dinheiro, a Fundação Banco do Brasil está preparando um curso de capacitação aos recém-chegados nos Estados do Paraná e de São Paulo, onde se concentra a comunidade. Investir certo é fundamental para quem, teoricamente, não tem como se meter numa segunda aventura além-mar para ganhar uma nova bolada.
A cidade de Bastos, localizada a 560 quilômetros de São Paulo, é um exemplo do potencial do dinheiro bem investido pelos imigrantes brasileiros que tentaram a vida no Japão, os dekasseguis. Assim como Governador Valadares, a cidade mineira que ficou famosa nos anos 80 depois que mais de 30.000 pessoas imigraram para os Estados Unidos, Bastos está ganhando com a poupança de seus aventureiros. As remessas dos dekasseguis de Bastos para suas famílias, estimadas em 2 milhões de dólares por ano, equivalem a 4% do PIB da cidade, a capital brasileira de ovos, responsável por 12% da produção nacional. Os dekasseguis que voltaram ou suas famílias são donos de três das seis farmácias existentes em Bastos e controlam mais de 70% das granjas locais.
O Grupo Okinawa, uma associação de lojas de materiais de construção de São Paulo, é um dos muitos casos de sucesso dos dekasseguis. Com um faturamento superior a 60 milhões de reais, a associação faz as compras de 102 lojistas para ter mais força na negociação com fornecedores. “A disciplina é uma arma poderosa nos negócios”, diz Hideaki Akamine, o presidente do grupo, que passou dois anos no Japão. Não é de hoje que as instituições financeiras arregalam os olhos com a poupança dos dekasseguis. O banco Sudameris, o Banco Interamericano de Desenvolvimento, o Sebrae nacional e o Sebrae-SP criaram um fundo de investimento de capital de risco voltado principalmente para os negócios idealizados por dekasseguis. A Incontrol — Intelligent Control, uma empresa de São Paulo da área de automação industrial, recebeu 3 milhões de reais em 2002. Desde então, dobraram o número de trabalhadores e a meta de faturamento para este ano.
Em qualquer país, o dinheiro dos imigrantes é sempre bem-vindo. A Índia, que exporta mão-de-obra há séculos, decidiu incentivar as remessas e os investimentos da comunidade que vive no exterior. Ao facilitar a obtenção da dupla nacionalidade, espera multiplicar os 5 bilhões de dólares que recebe por ano. Parte significativa dos investimentos realizados na China nos anos 90 saiu do bolso da comunidade chinesa espalhada no restante da Ásia e nos Estados Unidos. Os laços culturais, o idioma e o orgulho de voltar por cima para a terra que os expeliu têm um papel crucial que explica os volumes fabulosos de dinheiro mandado de volta para casa pelos imigrantes.
De grão em grão
A remessa de 2,5 bilhões de dólares por ano dos dekasseguis para suas famílias no Brasil equivale...
...Aos investimentos feitos pelas 25 montadoras instaladas no Brasil em 2002
...Ao faturamento líquido da AmBev
...A duas vezes o valor da fábrica da Ford em Camaçari, na Bahia
Os japoneses chegaram aqui há um século. Desde junho de 1908, muita coisa aconteceu. Ajude a resgatar essa memória.
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil